Na Câmara, consultora apresenta pesquisa que embasou mudanças de linhas de ônibus

Diante de dúvidas da população sobre as mudanças nas linhas do transporte coletivo, a Câmara Municipal de Campo Grande recebeu na Tribuna, durante a sessão ordinária desta terça-feira (11), a arquiteta Maria de Fátima Silva, diretora geral da Pait Consultores, empresa contratada para elaborar pesquisa para embasar mudanças que pudesse otimizar o ordenamento da rede, reduzindo os problemas para oferecer serviço de maior qualidade à população e atrair novos passageiros. Vereadores fizeram questionamentos sobre os dados e acompanham as mudanças que estão em fase de implantação.

No total, segundo Maria de Fátima, foram feitas 62 mil entrevistas com usuários, coletando dados sobre onde embarcariam, quais linhas pegariam e o destino final. Os técnicos fizeram ainda mais de 3 mil viagens nos coletivos, anotando dados. Anteriormente, já tinha sido feita uma entrevista nas residências. A expectativa é que os estudos ainda levem de seis meses a um ano, promovendo as correções e acompanhando as mudanças executadas.

“Temos hoje um quadro de diagnóstico do sistema de transporte.  E as mudanças estão embasadas nas pesquisas de contagem e entrevistas. Hoje, o passageiro está sendo ‘empurrado’ de um terminal para outro para chegar ao destino final”, disse. Conforme os dados apresentados pela diretora, cerca de 40% dos passageiros precisam embarcar em terminais e cerca de 30% pegar de três a quatro ônibus por dia para chegar ao destino. “O transporte tem que passar por mudança para efetivamente dar melhoria de qualidade e estancar perda de passageiros”, afirmou.

Dados referentes a diminuição de passageiros nos últimos anos também foram apresentados por Maria de Fátima. Hoje, a média diária é de 330 mil passageiros transportados por dia no transporte coletivo de Campo Grande. Destes, 129 mil passam pela integração nos terminais. A ideia, com as mudanças promovidas, é tornar esse deslocamento direto de alguns bairros com grande quantidade de passageiros até o Centro.

Alterações

A linha 070, por exemplo, deixa de ser a única a circular pela Avenida Ceará, e a 075 passa a abarcar esse mesmo trajeto. O Terminal Morenão, atualmente, acaba servindo de passagem para vários destinos. As mudanças visam promover “ligações diretas e evitando esse segundo ou terceiro transbordo”.

O Terminal Guaicurus, que concentra a maior parte dos embarques, chegando a média de 25 mil por dia, foi o primeiro a passar pelas modificações, que acabam afetando ainda outros terminais. Bairros como Los Angeles e Paulo Coelho, por exemplo, passaram ter linhas diretas para o Centro. “Essas linhas tinham 3 mil usuários por dia, dos quais 60% iam para Centro da cidade. Tomavam alimentadora (que vai do bairro ao terminal) até o Guaicurus e tinham opções das linhas 89 ou 61, que já compartilhava os passageiros das Moreninhas e do 087 que é linha longa, com articulado. Isso funciona com 1,5 mil pessoas na hora do pico. Quando contamos, vimos que não era possível 3 mil pessoas chegando e saindo. Então criamos duas linhas diretas”, disse. Essa mudança acabou “desafogando” as demais linhas.

Questionamentos

O vereador Prof. João Rocha, presidente da Câmara, convidou a diretora a prestar os esclarecimentos na Tribuna, usados para embasar as mudanças promovidas pelo Consórcio. “Agradeço a presença e por atender nosso convite para que pudéssemos cumprir o papel de fiscalizar e prestar contas à sociedade. Esperamos que a população possa ser beneficiada e acreditamos que isso poderá acontecer. O trabalho precisa continuar”, afirmou.

O vereador André Salineiro perguntou sobre o procedimento do Consórcio para avisar a população sobre as mudanças das linhas. Ele elogiou a iniciativa do estudo, mas questionou sobre as reclamações do serviço. “Temos muitas queixas sobre o Consórcio, falam que querem aumento porque têm prejuízo, então comprova. Serei o primeiro a falar que tarifa tem que aumentar, caso tenha prejuízo. Se estiver tendo lucro com esse serviço que está prestando tem que diminuir valor. Não se comprova esse prejuízo; se tiver entrega a licitação. Marcos Trad está fazendo um excelente trabalho e pegou peso de contratos anteriores”, disse, salientando que o preço cobrado na tarifa, aumentado recentemente, não está condizente com o serviço.

O vereador Betinho afirmou que a mudança nas linhas atendeu reivindicação dos moradores do Tiradentes para que passasse em frente a unidade de saúde e, com a alteração, o trajeto está menor e teve mais comodidade. “Acho que o caminho é esse, do estudo e do diálogo para a população ter mais qualidade”, ressaltou.

O vereador Carlão destacou que o transporte coletivo deveria ser prioridade dos governos. “Temos dado incentivos, o prefeito tem melhorado as vias de transporte, com asfalto nas linhas de ônibus, mas o transporte tem que ser melhorado”, disse. Ele citou exemplo do Bairro Nova Lima, na saída para Cuiabá, que precisaria de linha direta ao Centro. “A passagem é cara, mas se for mais célere o povo fica contente. A Câmara vai ficar de olho se o projeto vai dar certo. Tem que ter mudança”, afirmou.

Presidente da Comissão de Transporte da Câmara, o vereador Junior Longo, demonstrou preocupação com a queda de usuários desde 1995, em contraposição ao crescimento da cidade, conforme apresentado na Tribuna pela técnica. “Isso mostra urgência de tomar atitude, pois significa que o nosso transporte está próximo do fim. Não adianta culpar Uber, patinete ou moto. Nós temos que ser mais objetivo nas linhas para oferecer transporte de qualidade”, disse.

Para o vereador Otavio Trad, é preciso um tempo razoável para o consórcio desenvolver o serviço e deixar legado positivo, por isso os contratos têm prazo maior. Ainda, ressaltou a importância da tecnologia. “Hoje a facilidade fez com que usuários deixassem de usar transporte público, como é caso dos aplicativos. A concessionária tem que se modernizar, contar com aplicativo, cartões habilitados pelo celular e uma visibilidade melhor de qual rota pegar de maneira mais fácil”, exemplificou.

Para o vereador Papy, qualquer atitude de melhorar e louvável. “Acho que o transporte público é o futuro e a principal maneira de transporte para próximas gerações. Falta investimento em mobilidade urbana,  faltou coragem para fazer os corredores de transporte coletivo. Aqui parece que carro e moto são mais valorizados do que quem está no transporte coletivo, fundamental para classe trabalhadora”, disse.

O vereador Vinicius Siqueira fez uma série de questionamentos sobre a metodologia da pesquisa, considerando origem e destino, indo até as residências para buscar formas de resgatar passageiros, além de teste se as alterações estão funcionando. Ainda perguntou sobre o número de ônibus, pois o estudo aponta 519, mas o Consórcio Guaicurus ganhou licitação comprometendo-se a oferecer 575 veículos.

Ao final da sessão, será elaborado ofício com todos os questionamentos e encaminhado, em nome da Mesa Diretora, para que todos os questionamentos sejam respondidos. A vereadora Enfermeira Cida Amaral também apresentou requerimento, aprovado na última sessão, sobre dados das alterações. “Dentro do requerimento vou ter respostas, pois  precisamos esclarecer os munícipes, já que é muito delicado lidar com mudanças. Será que as linhas contemplam passageiros? Pontos que ficaram são suficientes?”, disse.

O vereador Eduardo Romero ressaltou o objetivo da diretora em esclarecer as alterações nas linhas e a importância de reforçar essa divulgação aos usuários. “Fui procurado por usuários sobre as mudanças nas linhas e foi muito rápida a devolutiva para sanar problemas. Precisamos tentar junto com usuários promover as mudanças necessárias”, afirmou.

O vereador Valdir Gomes reforçou, ainda, a importância de disponibilizar abrigos de ônibus, principalmente nos pontos próximos a escolas. “Já enviei requerimento para saber qual o planejamento para poder sanar isso, pois, principalmente do lado da periferia, como no Dom Antônio, os usuários ficam no sol ou na chuva”, disse.

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