Uma manifestação pacífica contra o presidente da Síria há sete anos atrás se transformou em uma guerra civil brutal que já contabiliza 400 mil mortos e mobilizou países do mundo inteiro, de acordo com a ONU mais de 5 milhões de pessoas já deixaram o país para fugir da guerra, um exôdo sem precedentes no mundo moderno. Estados Unidos, França e Reino Unido formam um frente de combate contra o regimo do presidente sírio Bashar al-Assad.
1. Como começou?
Antes mesmo da guerra começar a Síria já sofria com alto índice de desemprego, corrupção e falta de liberdade polítcia sob o regime do presidente Bashar al-Assad. Em 2011 as pessoas foram as ruas Deraa pedindo a democracia no país, inspirados por movimentos em países vizinhos conhecido com a Primavera Árabe.
Quando as forças de segurança sírias abriram fogo contra os ativistas – matando vários deles -, as tensões se elevaram e mais gente saiu às ruas. Os manifestantes pediam a saída de Assad.
A resposta do governo foi sufocar as divergências, o que reforçou a determinação dos manifestantes. No fim de julho de 2011, centenas de milhares saíram às ruas em todo o país exigindo a saída de Assad. Apoiadores da oposição pegaram em armas, primeiro para defender a si mesmos e depois para expulsar forças de segurança das áreas onde viviam. Assad prometeu acabar com o que chamou de “terrorismo apoiado por estrangeiros”.
Seguiu-se uma rápida escalada de violência, e o país mergulhou em uma guerra civil. Grupos rebeldes se reuniram em centenas de brigadas para combater as forças oficiais e retomar o controle das cidades e vilarejos. Em 2012, os enfrentamentos chegaram à capital, Damasco, e à segunda cidade do país, Aleppo.
O conflito já havia, então, se transformado em mais que uma batalha entre aqueles que apoiavam Assad e os que se opunham a ele – adquiriu contornos de guerra sectária entre a maioria sunita do país e xiitas alauítas, o braço do Islamismo a que pertence o presidente. Isto arrastou as potências regionais e internacionais para o conflito, conferindo-lhe outra dimensão.
2. Quantas pessoas já morreram?
Um ONG britânica chamada Observatório Sírio de Direitos Humanos contabiliza e monistora o conflito com informações de fontes locais, diz ter 353.900 mortes registradas até março de 2018, destas 106 mil eram de civis, sem contrar os 56.900 desaparecidos e mais 100 mil mortes que podem não ter sido documentadas. O enviado da ONU para a Síria, Steffan de Mistura, estimou que a guerra já matou 400 mil pessoas. Já o Centro Sírio para Pesquisa de Políticas, outro grupo de estudos, calcula que o conflito já tenha causado a morte de mais de 470 mil pessoas.
Enquanto isso, o Centro de Documentação de Violações, que recorre a ativistas na Síria, registrou o que avalia ser violações às leis de direitos humanos internacionais, inclusive ataques contra civis. Foram documentadas 185.980 mortes relacionadas ao conflito, entre elas as de 119.200 civis, até fevereiro de 2018.
3. Quem está lutando contra quem?
Desde o início o conflito evoluir muito, existe um número de membros da oposição moderada secular lutando contra as forças de Assad. O Exército curdo, um dos grupos que os Estados Unidos estão apoiando no norte da Síria, faz parte da oposição. Existe ainda uma grande quantidade de radicais e jihadistas – partidários da “guerra santa” islâmica, entre eles estão o autointitulado Estado Islâmico (EI) e a Frente Nusra, afiliada à al-Qaeda. Os combatentes do EI – cujas táticas brutais chocaram o mundo – criaram uma “guerra dentro da guerra”, enfrentando tanto os rebeldes da oposição moderada síria quanto os jihadistas da Frente Nusra.
Os rebeldes moderados têm requisitado armas antiaéreas ao Ocidente para responder ao poderio do governo sírio. Mas Washington e seus aliados têm procurado controlar o fluxo de armas por medo de que acabem indo parar nas mãos de grupos jihadistas.
4. Qual é o envolvimento das potências internacionais?
Os Estados Unidos, Reino Unido, França e outros países ocidentais forneceram variados graus de apoio para o que consideram ser rebeldes “moderados”.
Uma coalizão global liderada por eles também realiza ataques contra militantes do Estado Islâmico na Síria desde 2014 e ajudou uma aliança entre milícias árabes e curdas chamada Forças Democráticas Sírias (FDS) a assumir o controle de territórios antes dominados por jihadistas.
Já a Rússia apoia a permanência de Assad no poder, o que é crucial para defender os interesses de Moscou no país. O país já tinha bases militares na Síria e lançou uma campanha militar aérea em apoio a Assad em 2015 que foi crucial para virar o andamento da guerra a favor do governo.
Os militares russos dizem que os ataques têm como alvo “terroristas”, mas ativistas afirmam que regularmente morrem rebeldes e civis.
A intervenção russa possibilitou vitórias significativas das forças de Assad. A maior delas foi a retomada da cidade de Aleppo, um dos principais redutos dos grupos de oposição, em dezembro de 2016.
O Irã, de maioria xiita, é o aliado mais próximo de Bashar al-Assad. A Síria é o principal ponto de trânsito de armamentos que Teerã envia para o movimento Hezbollah no Líbano – a milícia também enviou milhares de combatentes para apoiar as forças sírias.
Estima-se que os iranianos já tenham desembolsado bilhões de dólares para fortalecer as forças sírias, provendo assessores militares, armas, crédito e petróleo.
A Turquia apoia há tempos os rebeldes, mas concentrou esforços em usá-los para conter a milícia curda que domina a FDS, acusando-a de ser uma extensão de um grupo rebelde curdo banido do território turco.
A Arábia Saudita foi um elemento-chave para conter a influência iraniana e também armou e financiou os rebeldes.
Ao mesmo tempo, Israel tem se preocupado muito com o envio de armas iranianas para o Hezbollah na Síria e tem realizado ataques aéreos para interromper isso.
5. Qual é o impacto da guerra?
Além da tragédia pelas milhares de mortes, outra face da guerra são as sequelas físicas daqueles que passaram por ataques, cerca de 1,5 milhões de pessoas que sobreviveram foram incapacitadas de alguma forma, 86 mil delas com amputações. Ao menos 6,1 milhões de sírios tiveram de deixar suas casas para buscar abrigo em alguma outra parte do país, enquanto outros 5,6 milhões se refugiaram no exterior.
Líbano, Jordânia e Turquia, onde 92% destes sírios refugiados vivem hoje, têm enfrentado dificuldades para lidar com um dos maiores êxodos da história recente. A ONU estima que 13,1 milhões de pessoas necessitarão de algum tipo de ajuda humanitária na Síria em 2018.
Os dois lados do conflito pioraram essa situação ao se recusar a permitir o acesso de agências com fins humanitários a quem precisa de auxílio. Quase 3 milhões de pessoas vivem em áreas alvos de cerco e de difícil acesso.
Os sírios também têm acesso limitado a serviços de saúde.
A organização Médicos por Direitos Humanos registrou 492 ataques a 330 instalações médicas até dezembro de 2017, o que resultou em 847 profissionais de saúde mortos.
Grande parte do patrimônio cultural da Síria também foi destruído. Todos os seis locais considerados pela Unesco como patrimônio da humanidade sofreram danos significativos.
6. Como o país está dividido?
O governo retomou o controle das maiores cidades sírias, mas ainda existem grandes áreas do país que estão sob comando de grupos rebeldes e terroristas. O principal reduto de oposição é a província de Idlib, no nordeste do país, onde vivem mais de 2,6 milhões de pessoas.
Apesar de designada como uma zona onde não deveria haver hostilidades, Idlib é alvo de uma ofensiva do governo, que diz estar combatendo jihadistas ligados à Al-Qaeda.
Ataques por terra também estão em curso em Ghouta Oriental. Seus 393 mil residentes estão sob o cerco do governo desde 2013 e enfrentam intensos bombardeios, assim como uma grave falta de comida e de suprimentos médicos.
Enquanto isso, a FDS controla a maioria do território a leste do rio Eufrates, incluindo a cidade de Raqqa. Até 2017, esta era a capital do “califado” que o Estado Islâmico disse ter instaurado, mas, agora, o grupo controla apenas alguns bolsões na Síria.
7. Por que a guerra está durando tanto?
A intereferencia de grandes nações regionais e de outros continentes tem sido fator importante na escalada da guerra. O apoio militar, financeiro e político tanto para o governo quanto para a oposição tem contribuído diretamente para a continuidade e intensificação dos enfrentamentos, e transformado a Síria em campo para uma guerra indireta. A intervenção externa também é responsabilizada por fomentar o sectarismo no que costumava ser um Estado até então secular (imparcial em relação às questões religiosas).
As divisões entre a maioria sunita e a minoria alauita no poder alimentou atrocidades de ambas as partes, não apenas causando a perda de vidas, mas a destruição de comunidades, afastando a esperança de uma solução pacífica.
8. Por que EUA, França e Reino Unido se uniram em novo ataque a alvos de Assad?
Os ataques realizados por Estados Unidos, França e Reino Unido contra a Síria foram uma resposta às evidências de uso de armas químicas pelo governo do presidente sírio, Bashar al-Assad.
Os sintomas observados nas vítimas na cidade de Douma, um reduto rebelde na periferia da capital da Síria, Damasco, indicam possível uso de agentes neurotóxicos como o cloro e o gás sarin, que teriam provocado a morte de, pelo menos, 40 pessoas.
No último sábado, imagens chocantes de adultos e crianças sofrendo sintomas do que parecia ser um ataque químico correram o mundo.
“Ordenei as forças armadas dos Estados Unidos a lançar ataques precisos em alvos associados com instalações de armas químicas do ditador sírio Bashar al-Assad”, disse Trump, em pronunciamento na Casa Branca.
Armas químicas são proibidas por acordos internacionais. Seu uso motivou o ataque de americanos e aliados contra três alvos – instalações químicas, segundo o Pentágono – em Damasco e em Homs. A Síria e a Rússia dizem que a acusação é uma farsa e negam o uso de tais agentes.
Não é a primeira vez que Assad é acusado de usar armas químicas. Em 2017, 86 pessoas – 27 delas crianças – foram mortas em um incidente com uso de armas químicas em Khan Sheikhoun, na província de Idlib, de acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos. Tanto a Organização Mundial da Saúde quanto a instituição de caridade médica Médicos Sem Fronteiras disseram na época que as vítimas apresentavam sintomas consistentes de exposição a agentes que afetam o sistema nervoso.