O líder norte-coreano Kim Jong Un elogiou o que descreveu como “sucesso brilhante” de seu país ao conter a pandemia do novo coronavírus, mas alertou a seus subordinados que levantar medidas de prevenção precocemente pode ser devastador.
Kim disse em reunião depolíticos de alto escalão que eles teriam freado o avanço do vírus no país, reportou a mídia estatal.
Imagens divulgadas pela KCNA da reunião mostra Kim presidindo o evento com dúzias de oficiais, que não pareciam praticar distanciamento social. Nenhum deles usava máscaras.
No entanto, fontes diplomáticas baseadas em Pyongyang disseram que, nas ruas, todos usam máscara e mantém alguma forma de distância social. A vida voltou ao normal em grande parte da capital norte-coreana, disseram, e construções, lojas e hotéis estão todos abertos. As escolas reabriram em junho, disse uma fonte.
Essas pessoas disseram que as autoridades norte-coreanas estão confiantes de terem controlado o vírus, ao menos em Pyongyang, apesar de uma delas dizer que não ficou sabendo de ninguém sendo testado.
Essa reunião foi a primeira aparição pública de Kim em semanas. O jovem líder norte-coreano mantinha um cronograma lotado de eventos públicos em anos anteriores, mas nos últimos três meses, tem surpreendentemente adotado um comportamento pouco chamativo.
A NK News, que monitora as aparições públicas dos funcionários do alto escalão do país, disse que Kim apareceu sete vezes publicamente em abril, maio e junho deste ano. Durante o mesmo período em 2018 e 2019, ele apareceu 45 e 46 vezes, respectivamente.
A ausência de Kim incitou especulação sobre sua saúde —que é particularmente ruim para um homem em seus 30 anos—e se haveria um surto de casos de Covid-19 na Coreia do Norte. Alguns analistas pensaram ser possível que ele estava abrigado do público geral caso o vírus tivesse começado a se espalhar na Coreia do Norte.
Mais de 10,8 milhões de pessoas em todo o mundo contraíram o novo coronavírus e mais de meio milhão morreram em decorrência dele. Todos os países na Ásia Oriental reportaram ao menos um caso de Covid-19 — exceto pela Coreia do Norte.
Em uma nota enviada à CNN, o representante da OMS (Organização Mundial da Saúde) na Coreia do Norte, Edwin Salvador, disse que 922 pessoas no país foram testadas para o vírus, e todas testaram negativo. Estima-se que a população da Coreia do Norte seja de aproximadamente 25 milhões, apesar do número exato ser incerto porque Pyongyang não disponibiliza ao público informações demográficas.
Salvador disse que desde que a pandemia começou, 25.551 pessoas foram postas em quarentena e depois, liberadas. Até 255 pessoas, todos norte-coreanos nato, ainda estão sendo mantidos em isolamento, disse. Salvador disse que todas as escolas do país foram reabertas e que os estudantes são obrigados a usarem máscaras.
Especialistas independentes em saúde pública disseram que é altamente improvável que o vírus não tenha adentrado o país de alguma forma. Um dos cenários mais verossímeis é que o vírus pode ter entrado pela fronteira norte com a China, onde o contrabando é comum. Surtos de coronavírus foram identificados na China, incluindo um na província de Jilin em maio.
Salvador disse que apesar das fronteiras fechadas, mercadorias enviadas à Coreia do Norte são desinfetadas e postas em quarentena por dez dias.
Especialistas acreditam que a Coreia do Norte estaria particularmente vulnerável a um surto de Covid-19 por conta de sua infra-estrutura de saúde insuficiente, e questionamentos já haviam sido levantados sobre a capacidade de testagem do país. Salvador disse que a Coreia do Norte tem 235 equipes de resposta rápida em todo o país preparadas para lidar com casos e 15 laboratórios designados para testar para a doença. Autoridades norte-coreanas começaram a aferir temperaturas com termômetros infravermelhos em lugares públicos, onde as máscaras são obrigatórias. Aglomerações públicas foram banidas.
“O protocolo nacional do ministério é baseado nas orientações da OMS para responder a qualquer caso suspeito. Todos os casos suspeitos, leves, moderados ou severos, são postos em quarentena em um condado específico ou em hospitais da província, não há quarentena domiciliar para casos leves”, disse em seu comunicado.
Apesar de muitos se preocuparem com uma possível sobrecarga do sistema de saúde norte-coreano diante de uma pandemia, o país é bem-posicionado para prevenir que o vírus penetre suas divisas. A Coreia do Norte parou de permitir a entrada de pessoas quando a pandemia emergiu meses atrás e pessoas dentro do país não têm liberdade total de movimento. Desertores dizem que o norte-coreano médio não tem permissão para viajar longe de sua residência sem autorização do governo. Informações: CNN Brasil/ Foto: KCNA/via REUTERS