Estudo mostra que protocolos contra Covid-19 em bares não funcionam

É possível tornar os bares seguros em uma pandemia? Um experimento realizado na Escócia no último verão não deu certo, de acordo com uma nova pesquisa publicada na segunda-feira (15) no Journal of Studies on Alcohol and Drugs (Jornal de Estudos Sobe Álcool e Drogas, em tradução livre).

Apesar das orientações do governo e dos esforços por parte dos proprietários de bares para implementar medidas de segurança, os clientes e funcionários também não cumpriram às medidas mais simples destinadas para prevenir a propagação – especialmente quando os clientes estavam intoxicados, descobriram os pesquisadores.

Com alguns restaurantes e bares em ambientes fechados, em lugares como Nova York e Portland retornando aos serviços, muitos proprietários de negócios dos EUA estão trabalhando para tornar a experiência o mais segura possível – algo que os pesquisadores escoceses descobriram que pode não ser tão fácil.

Após lockdown no Reino Unido, os bares na Escócia foram autorizados a reabrir em julho sob novas diretrizes, incluindo manter grupos de clientes a pelo menos um metro de distância, separados, mantendo todos os sentados e exigindo que a equipe usasse máscaras e coberturas no rosto.

Niamh Fitzgerald, professora da Universidade de Stirling, na Escócia, e colegas visitaram 29 bares para observar como essas medidas de segurança funcionavam na prática.

“Tratava-se essencialmente de compreender quais são os riscos e qual o grau de sucesso dos nossos bares e pubs no controle desses riscos” disse Fitzgerald.

Medidas de segurança fracassaram

A equipe descobriu que os funcionários não usavam coberturas faciais de maneira consistente, alguns baixando as máscaras para falar com os clientes – talvez frustrando o propósito.

Embora a maioria das instalações tenha conseguido reestruturar seu layout para acomodar uma distância de um metro entre as mesas, muitas ainda tinham problemas com superlotação.

“Foi muito difícil para eles eliminar completamente o que chamamos de ‘pontos de aperto’, então, havia áreas estreitas na maioria dos locais. Tanto nas entradas quanto nos corredores ou nos banheiros, onde era difícil para os clientes evitarem a passagem juntos”, disse Fitzgerald.

Uma instalação cobriu o balcão do bar com fita preta e amarela e um aviso para manter distância, mas os clientes ainda se aglomeravam ao redor do balcão.

“Nenhum dos clientes reconheceu que a fita estava lá”, escreveram os pesquisadores.

Grande parte do risco que a equipe observou ocorria já à noite, quando os clientes bebiam. Os pesquisadores observam que o consumo de álcool pode afetar a audição, a visão e o julgamento de uma pessoa, tornando fisicamente mais difícil para ela cumprir as medidas de segurança. Também pode diminuir as inibições, resultando em pessoas simplesmente se preocupando menos em obedecer.

A equipe viu pessoas pulando de mesa em mesa, tocando-se e cantando ou gritando. Alguns clientes fizeram novos amigos em lugares inesperados.

“Duas mulheres de grupos diferentes esbarraram uma na outra fora do banheiro e começaram a gritar, se abraçar e pular juntas”, escreveu a equipe.

“Elas então entraram nos banheiros e foram para um cubículo juntas, e foram observadas lavando as mãos por cerca de dois segundos ao saírem, apesar de haver sinais por toda parte recomendando uma lavagem das mãos de 20 segundos.”

A equipe descreveu uma mulher fortemente embriagada pedindo a um garçom bonito para tirar uma foto com ela. Ele obedeceu, após o que ela o beijou na bochecha e agradeceu.

Em todos os casos, exceto um, a equipe não conseguiu impedir esse comportamento, observou a professora. “Descobrimos principalmente isso, eles nem mesmo tentaram.”

Em um setor em que o cliente está sempre certo, pode ser difícil para a equipe estabelecer a lei quando se trata de precauções contra o coronavírus.

Em entrevistas com proprietários de empresas, muitos disseram aos pesquisadores que estão acostumados a administrar pessoas embriagadas.

“Acho que esse nível de intervenção é provavelmente – pelo menos na Escócia – quando as pessoas estão muito bêbadas e desordenadas”, disse Fitzgerald.

“Considerando que o comportamento que ocorre neste tipo de embriaguez está em um estágio no qual as pessoas são excessivamente amigáveis; elas estão apenas se divertindo. Não é o tipo de situação em que a equipe teria de intervir anteriormente.”

“Há esse tipo de nova expectativa de comportamento à qual nem os clientes nem a equipe realmente se adaptaram”, acrescentou.

Atenuando o risco

Fitzgerald acredita que os bares podem ser capazes de a atenuar um nível de risco, comunicando claramente sobre as expectativas e tentando criar uma atmosfera de “autopoliciamento” entre os clientes.

Embora ao contrário de lugares como supermercados ou lojas de varejo, os bares são espaços inerentemente sociais, e os esforços para torná-los menores podem resultar em menos clientes.

Os governos podem ajudar a eliminar o risco implementando medidas de mitigação, como toques de recolher, observou Fitzgerald.

Depois de um grande surto em agosto relacionado a mais de 20 bares e restaurantes na cidade escocesa de Aberdeen, os pesquisadores notaram que a Escócia endureceu suas diretrizes.

O país determinou a coleta de informações do cliente para rastreamento de contratos e proibiu a música de fundo em locais, para evitar que as pessoas tivessem que gritar ou se aproximar para ouvir umas às outras. Claro, não há como eliminar o risco completamente.

“É realmente analisando se, neste momento, as taxas de transmissão são baixas o suficiente para que possamos tolerar esse nível de risco e estar confiantes de que, se houver alguma transmissão, poderemos rastreá-la e lidar com ela sem se tornar um problema maior” disse Fitzgerald.

Muitos proprietários de empresas sabem muito bem que permanecer fechados durante a pandemia pode ser financeiramente devastador.

“Suponho que os governos talvez precisem pensar sobre o apoio disponível para essas instalações, para que não se sintam obrigados a abrir se realmente não acharem que podem operar com segurança”, acrescentou a pesquisadora.

 

Foto: Charles Platiau

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