Doenças crônicas, uso de medicamentos e distúrbios hormonais são alguns dos fatores que podem comprometer o crescimento infantil. É comum que pais se preocupem se a estatura dos filhos está de acordo com a idade ou qual altura eles terão na vida adulta.
“O crescimento é um processo biológico influenciado por múltiplos fatores, incluindo a genética, que tem um papel essencial, os fatores nutricionais e ambientais. Entre as causas que comprometem o crescimento linear de uma criança no período da infância, estão as doenças crônicas, o uso de corticoide, distúrbios endócrinos, como o hipotireoidismo e as deficiências do hormônio de crescimento”, explica Ana Claudia Latronico, professora de Endocrinologia e Metabologia do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Segundo a especialista, causas mais raras, como alterações genéticas, podem eventualmente se associar a anomalias, incluindo a baixa estatura como um componente da condição clínica.
Exames básicos permitem a realização de dosagem hormonal e metabólica, já o raio-X revela o acompanhamento da idade óssea. Através da idade do osso, é possível estimar a estatura final que a criança terá na vida adulta.
A médica Cláudia Cozer Kalil, doutora em Endocrinologia e Metabologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), afirma que os pais devem ter atenção redobrada com a alimentação nessa fase da vida da criança.
“A criança com uma má alimentação ou uma alimentação pobre em calorias proteicas e vitamínicas terá problema de atingir o crescimento estimado. O importante é essa criança, desde o nascimento, ser acompanhada por um profissional da saúde, que vai colocá-la no gráfico de curva e acompanhar a velocidade de crescimento anual dela. Porque a gente consegue, então, detectar precocemente quando essa criança parou de crescer satisfatoriamente e está saindo da curva que pertence a ela”, afirma.
Hormônio do crescimento
O crescimento humano está associado à produção de um hormônio específico produzido pela hipófise, uma glândula localizada na parte inferior do cérebro.
A escassez ou o excesso do hormônio do crescimento podem trazer impactos ao organismo. O nanismo, por exemplo, está relacionado à falta, já o crescimento exagerado de pés e mãos, do nariz e das orelhas é um reflexo da produção em excesso do hormônio.
O avanço da tecnologia permitiu a produção desse hormônio de maneira sintética, que passou a ser utilizado para o tratamento do déficit do crescimento.
“O hormônio do crescimento pode ser usado em várias situações hoje em dia. Como em algumas alterações genéticas, incluindo aí o déficit de produção do próprio hormônio de crescimento naturalmente. Como em crianças que tem algumas doenças genéticas, entre elas a Síndrome de Turner, que é uma síndrome com defeito do cromossomo X, que se beneficiam com o tratamento com hormônio de crescimento”, explica Ana Cláudia.
A médica alerta que o uso do hormônio sintético deve ser realizado em casos específicos, a partir de avaliação médica criteriosa.
“Infelizmente o uso de hormônio de crescimento em crianças normais tem sido aplicado no Brasil e fora do país. E isso pode estar associado a um tratamento estético e que não necessariamente vai responder às expectativas dos pais e da criança. Trazendo às vezes a impressão de que a criança é doente”, afirma.
O coordenador do Centro de Nutrição do Instituto Pense, Mauro Fisberg, afirma ser comum o atendimento a famílias que almejam uma altura maior para os filhos.
“A estatura é uma coisa a ser alcançada. No consultório, é muito comum que a gente receba famílias de crianças que querem que a criança seja muito mais alta do que ela teria capacidade, para jogar vôlei, ser goleiro, por exemplo”, afirma.
O episódio também aborda novos tratamentos para o déficit do crescimento em desenvolvimento no Brasil.
“Nos últimos anos a tecnologia de sequenciamento de genes, permitiu fazer o sequenciamento do exoma, ou seja, sequência ao mesmo tempo de todos os genes do nosso genoma. Esse teste permite confirmar um diagnóstico clínico em quase 90% das vezes e achar um diagnóstico de baixa estatura sindrômica que não era percebido clinicamente, em quase 40 a 50% dos casos”, afirma o médico Alexander Jorge, responsável pela Unidade de Endocrinologia Genética do Hospital das Clínicas.
O caso de Itabaianinha
A equipe da CNN vai até a cidade de Itabaianinha, no interior de Sergipe, conhecida há gerações como “a cidade dos anões”. A média de pessoas com menos de 1m45 é de 25% maior do que a do restantes do Brasil. Estima-se que cerca de 150 habitantes tenham nanismo.
O médico Manoel Hermínio, professor titular de Endocrinologia da Universidade Federal de Sergipe (UFS), que estuda o caso desde 1994, participa do episódio.
“A cidade de Itabaianinha é uma das mais conhecidas do Nordeste, por um fenômeno ao mesmo tempo genético e ambiental. Foi a introdução de um gene alterado, provavelmente entre 250 ou 300 anos atrás, nós não podemos precisar isso, em uma comunidade isolada. Eles viviam em uma área rodeada por serras”, afirma.
Segundo o especialista, por ser uma condição recessiva – que requer gene do pai e gene da mãe, a prática de casamentos consanguíneos pode ter favorecido a quantidade elevada de casos na região.
“Eles têm uma proteção parcial contra diabetes, que é mais leve. Eles têm uma aterosclerose mais lenta, são menos propensos a doenças do coração, infarto, doença vascular, têm uma proteção contra câncer de mama, contra câncer de intestino, contra câncer de próstata, contra câncer de pulmão, contra os cânceres mais prevalentes na população”, destaca Hermínio.
Fonte: CNN Brasil / Foto: Reprodução