Na Rua Barão de Melgaço, esquina com a Pedro Celestino, uma tamareira carregada de frutas em tom dourado integra a história da família Dalloul. Plantada há 30 anos, a árvore é cultivada pelo patriarca da família como um dos modos de manter a tradição Siria.
Aos 90 anos, Yassine Blau Dalloul não abandona os costumes, crenças e carinho pela tamareira trazida da Síria. Tampouco deixa de lado as parreiras de uva plantadas no quintal para garantir os tradicionais charutos.
Dividindo a história de descendência e integrando a narrativa da rua, Alice Meres Dalloul, esposa de Yassine, resume que a Barão de Melgaço viu a família crescer, as árvores crescerem e a cidade se desenvolver. “Eu gosto demais daqui, mas não tem nem como não gostar. Vivi aqui minha vida inteira, só me mudei de casa e estamos aqui há tanto tempo”, diz. Contando sobre a história da família, Selmen Yassine Dalloul conta que tanto a família da mãe quanto do pai vieram da Síria, mas em anos diferentes. “Meu avô veio antes para cá, em meados da década de 1940, fugindo da Segunda Guerra. Já meu pai veio naquela imigração gigantesca que teve em 1951, de navio”.
Acompanhado da família, Yassine chegou ao Rio de Janeiro e depois é que decidiu seguir até Mato Grosso do Sul. “O irmão dele que também havia vindo para o Brasil resolveu voltar para Síria, mas meu pai ficou. Na época, veio para trabalhar e não saiu mais daqui”, conta.
Desde então, a família ficou entre as ruas Pedro Celestino e Barão de Melgaço. De acordo com Selmen, a atual casa é o lar do casal há cerca de 50 anos.
“Meus pais se conheceram mesmo em Campo Grande e depois é que compraram essa casa. Nós crescemos aqui e desde as árvores até a parreira de uva, tudo tem essa ligação de história”, diz Selmen.
Contando sobre a parte de vegetação da casa, o advogado explica que Yassine cuidou desde o início com todo carinho. “Acho que é por isso que a tamareira deu tão certo. Ela fica cheia de frutas e a relação dele com a árvore era tão forte que toda vez que ele chegava perto, a árvore derrubava uma tâmara para ele”, brinca.
Além da árvore possível de ver da rua, outros dois pés foram plantados pelo patriarca aos fundos da casa. E, há alguns anos, outro pé também acompanhava o grupo.
Detalhando sobre como a tamareira é um dos elementos que demonstram a conexão mantida com o país de origem, Selmen comenta que mesmo aos 90 anos, o pai faz questão de manter as tradições.
“Nós somos muçulmanos, alauitas, e meu pai continua seguindo a religião. Não come um carneiro sem rezar antes, reza cinco vezes ao dia e mesmo estando esquecido, pergunta qual o horário para seguir”, comenta o filho.
Orgulhoso dos aprendizados ensinados e mantidos na família, como descendente, o advogado explica que hoje a cultura está se dissipando. Mas, ainda assim, os ritos, valores e até árvores, como na sua família, mantém as memórias vivas.
Para ele, não há dificuldade em manter as tradições desde que não sejam impostas. “Meu pai nunca nos obrigou, então segue quem quer. As gerações vão mudando, mas ainda temos descendentes que fazem questão de manter e não esquecemos da história, da religião, dos costumes”.
Informações: Campo Grande News/Foto: Marcos Maluf