Após denúncia de rede de TV, hospitais dos Estados Unidos são acusados de largar pacientes pobres nas calçadas

A rede de TV Wave3, afiliada da NBC, investigou e denunciou a prática proibida por lei desde 1986 no país

Imagens de pacientes largados em calçadas das ruas de Louisville, no Kentucky, chocaram e causaram revolta, repercutindo internacionalmente quando moradores da região denunciaram casos a jornalistas da rede televisiva Wave, afiliada da NBC.

Com um sistema de saúde privado e muito caro, muitos pacientes nos Estados Unidos não conseguem pagaras despesas médicas e, por isso, alguns deles estão sendo expulsos das unidades hospitalares. A prática é chamada de “patient dumping”, ou “despejo de paciente”.

A cena é sempre a mesma: seguranças do hospital acompanham – ou carregando a força – pessoas doentes que não têm como pagar o tratamento, e as abandonam do lado de fora do hospital. A prática é comum também contra pessoas em situação de rua, que além de não terem dinheiro são acusadas de pedirem assistência e não cuidado médico nos hospitais e, sob esta alegação, acabam expulsas.

O número de pessoas sujeitas a serem vítimas dessa prática é enorme, visto que em 2021, dados mostravam que 27 milhões de estadunidenses (ou cerca de 8,3% da populaçã) não tinham plano de saúde ou qualquer garantia de acesso à saúde. O departamento de habitação do Governo Federal dos EUA apontou, em 2022, que 582 mil pessoas vivem em situação de rua no país, e que 30% delas são crianças.

Até então, pelo menos dois processos de pessoas que foram jogadas nas calçadas por hospitais resultaram em indenizações com valor superior a 1 milhão de dólares. Em um deles, o paciente veio a óbito.

Prática proibida

Uma lei federal aprovada em 1986 proíbe o despejo de pacientes nas ruas dos Estados Unidos. Segundo a legislação em vigor, o paciente que procura socorro deve passar por um “exame apropriado” feito por um médico ou pessoa qualificada a verificar se há uma emergência médica.

Havendo, o paciente deve ser estabilizado e tratado conforme os recursos da unidade. A lei autoriza transferências, mas somente para uma unidade com os mesmos recursos.

A primeira denúncia relatada à emissora partiu de uma pessoa que trabalhava no Hospital Universitário de Louisville, que se dizia “horrorizada” ao ver seguranças da unidade de atendimento levarem uma idosa para o lado de fora numa cadeira de rodas e abandonando-a na calçada.

Ainda com roupas hospitalares, a senhora respirava com dificuldade e tendo somente um cobertor sobre a cabeça para se proteger de um frio de 0ºC, enquanto seus pertences foram postos numa sacola e deixados ao lado dela na rua. A situação foi filmada e viralizou nas redes sociais.

A funcionária alegou que via cenas como essa frequentemente, o que levou a imprensa a investigar. Então, no dia 16 de dezembro de 2022, num frio de 2 graus, a TV gravou três seguranças cercando uma mulher que estava com um andador e escoltando a paciente para fora da área de emergência.

Depois do “despejo”, o repórter abordou a paciente, que era moradora de rua, diabética e tinha doenças pulmonares. Eles tiveram o seguinte diálogo:

— Eles me disseram que eu não poderia ficar lá.

— Você era paciente?

— Eu precisava ser paciente, porque estou doente.

— Então por que não te trataram?

— O médico falou comigo por um minuto. Ele disse que eu deveria ir embora.

— Por que razão?

— Ele não me deu uma justificativa.

A reportagem contou também a história de um paciente cuja família ouviu do hospital Norton Healthcare que ele seria levado para um abrigo da cidade. Por falta de vagas, o paciente identificado como  Matthew Hauber foi “despejado” pelo hospital no dia seguinte, debaixo de chuva. “Despejaram o meu filho como lixo”, disse Linda Hauber, mãe de Matthew, antes de morrer.

Em nota, o Norton Healthcare disse que não comentaria o caso de Matthew por “respeito à privacidade do paciente”. Já o University Hospital afirmou que as imagens dos três seguranças escoltando a mulher para fora da unidade não davam “detalhes suficientes para apurar se a conduta dos funcionários foi correta”.

“O que às vezes parte o coração de alguns funcionários são situações em que os pacientes precisam de um suporte que vai além dos cuidados médicos, em especial para aquelas que não têm um lar. Os recursos são limitados e, mesmo quando estão disponíveis, alguns indivíduos recusam ajuda”, disse o hospital em nota.

 

Fonte: IG Último Segundo / Foto: Reprodução TV Wave3

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