Não pode feijão no pote de sorvete nem deixar a carne descongelar em cima da pia. Conheça as recomendações dos especialistas.
Congelar os alimentos aumenta a validade da comida e é uma mão na roda para quem tem dificuldade em consumir os produtos enquanto ainda estão frescos. O lado ruim é, na hora de descongelar, sentir gosto e textura estranhos.
“A qualidade do congelamento influencia muito na textura do alimento depois que eu descongelo”, diz Elke Stedefeldt, nutricionista e colaboradora da Associação Brasileira de Nutrição. Conheça as melhores formas de preservar seus alimentos no congelador e como evitar alguns equívocos comuns.
Quanto mais rápido, melhor
Os especialistas explicam que, para um melhor resultado, o ideal é que o congelamento do alimento aconteça de forma rápida. “Se a água contida no alimento congela de forma muito lenta, ela forma grandes cristais de gelo”, diz Stedefeldt. “Quando se tem cristais muito grandes, as pontas furam as células do alimento. O líquido interno vaza e, assim, o alimento perde grande parte do sabor e da textura”, afirma a nutricionista.
“Se feito de forma rápida, o gelo forma pequenos cristais, sem as pontas, e a água congelada da célula fica bem uniforme. Consequentemente, o alimento fica mais firme”, afirma Stedefeldt.
“Na indústria, existe um equipamento adequado para congelar de forma ultrarrápida. Em casa, dá para usar algumas técnicas para um congelamento mais eficiente”, diz Denis Calvo, diretor comercial da loja Marmitaria Saudável.
“Sempre congelar alimentos individualmente, sem juntar muito um tipo com outro. No caso de um bife ou um legume, é sempre melhor deixar ele solto dentro do recipiente”, conta Calvo.
“Para acelerar o processo, é bom congelar em porções pequenas com só o que você vai precisar por refeição”, continua o diretor. “E o ideal é que o freezer não esteja tão cheio, para circulação do ar frio”.
E na hora de descongelar?
Tudo que congela rápido, descongela rápido. Por isso, se você seguiu as dicas acima, seu resultado já vai ser melhor. Mas há outros cuidados que você pode tomar. “Se eu moro sozinha, não vou congelar uma peça inteira de carne, porque não se pode congelar um alimento novamente. Então o melhor é cortar antes e congelar em porções menores e individuais”, recomenda Margot Lambert, professora de gastronomia.
Segundo os especialistas, o cenário ideal é planejar as refeições com um dia de antecedência, para que você possa retirar os alimentos necessários do freezer e deixar descongelando na geladeira 24 horas antes. “A temperatura ambiente é mais propícia para a proliferação de micro-organismos, que é entre 15°C e 60°C”, diz Denis Calvo. “Para nossas marmitas, cozinhamos as proteínas acima de 60°C e então temos 2 horas para congelar, senão é preciso descartar por risco de contaminação”.
Se você não tiver como descongelar o alimento na geladeira, a solução é então colocar no micro-ondas. “Por ser rápido, ele não vai deixar o alimento exposto para os micro-organismos, mas o problema desse método é que a textura vai ser prejudicada”, explica a gastrônoma.
O que não é indicado: “Descongelar debaixo da torneira, em cima da pia, ou dentro de um pote de água. Tudo isso deixa o alimento exposto e vulnerável tanto a micro-organismos quanto a outros tipos de contaminação externa, como insetos que possam pousar ali”, afirma Lambert.
E aproveitando a deixa, a especialista acrescenta: “Nada de usar pote de sorvete para guardar feijão. Ele não foi feito para esse alimento.”
“Embalagens de outros produtos não devem ser reaproveitadas para uso no freezer, pois podem não ser apropriadas”, diz Margot Lambert.
De acordo com Lambert e Calvo, os recipientes mais adequados são potes de plástico polipropileno e filme plástico, para envolver os alimentos e evitar a contaminação.
O que não dá para congelar?
Na verdade, tudo pode ser congelado, a questão é o que você vai fazer com o alimento depois. “O congelamento é um método de conservação que não prejudica a parte nutricional, mas pode alterar a textura”, diz Margot Lambert, gastrônoma.
Alguns alimentos, em especial aqueles com muita água na composição, perdem a textura quando descongelados e se tornam inadequados para o consumo direto. Mas podem ser usados em preparos nos quais a consistência não é essencial.
- 🍓🍆🥬Frutas, verduras e legumes
Frutas têm muita água na composição, que se solta das fibras ao congelar e descongelar, causando uma mudança desagradável de textura. “Congelar frutas só é bom se você quer fazer sucos, sorvetes, geleias, colocar em massas de bolos ou outros preparos variados, porque a textura não vai ser relevante nesses casos. Mas não para comer in natura”, diz Margot Lambert.
Isso vale para a couve, que costuma ser usada para fazer sucos, mas não para outras verduras, como alface, em que o frescor importa. “Se a verdura estiver dentro de um recheio, como ricota com escarola, não tem problema, porque nesse caso a escarola já foi refogada”, explica a gastrônoma. “Ervas usadas como tempero em preparos, como salsinha e cebolinha, também podem ser congeladas”.
Os legumes também devem ser preferencialmente mantidos somente na geladeira, pois também têm muita água na composição e costumam ser usados frescos. Alguns exemplos são abobrinha, alface, pepino e couve-flor. Mas é liberado guardar os “restos” desses alimentos, como o talo ou folhas não utilizadas, para fazer caldo de legumes depois.
Outra coisa que não se deve fazer é lavar e congelar os alimentos ainda molhados. “Um brócolis molhado, por exemplo: se a água congela nas folhas, pode acabar quebrando as fibras”, conta Denis Calvo, da Marmitaria Saudável.
- 🍲 🧃Líquidos
Com líquidos, é preciso ter cuidado. “Eles vão se expandir, então podem romper o recipiente onde estão guardados”, conta Calvo. Por isso, deve-se evitar usar potes de vidro no congelador, já que podem não aguentar a pressão da expansão e estourar. “Quando congelar líquidos, é interessante deixar um espaço antes da tampa para que esse líquido possa ‘estufar’ lá dentro”, recomenda Lambert. “Se um pote de sopa estiver cheio até a boca, por exemplo, a tampa pode abrir ou o pote pode rachar”, completa.
Deixe cerca de 2 a 3 cm de espaço entre a tampa e o conteúdo do pote. De maneira geral, molhos também podem ser congelados, embora o molho branco possa perder suas propriedades caso os ingredientes usados tenham amido, como o bechamel, que é engrossado com farinha.
Ovos crus também expandem e podem causar rachaduras na casca, propiciando a proliferação de bactérias na parte interna.
- 🥔🌾Alimentos com amido
Tubérculos e farináceos sofrem danos nas estruturas das fibras e perdem a textura em baixas temperaturas. A batata, por exemplo, não deve nem ir à geladeira.
“De maneira geral, não se aconselha congelar coisas com amido. Batata, mandioquinha e creme de confeiteiro entram nessa categoria”, exemplifica Lambert. “Mas pode-se seguir o mesmo princípio das frutas: se a batata será usada para fazer uma sopa, pode ser congelada”, completa.
- 🥛🍦Laticínios com pouca gordura
Leite, iogurtes e queijos leves – como o cottage – sofrem uma separação da água e gordura contidas no alimento e não voltam à textura original depois. Para esses produtos, o melhor é deixar na geladeira, na parte mais fria.
Até quando pode deixar no congelador?
A validade dos alimentos no congelador depende também do tipo de produto. A gastrônoma Margot Lambert faz uma estimativa para cada grupo:
- Alimentos in natura – frutas e verduras – costumam durar de 30 a 45 dias.
- Proteínas animais duram 60 dias.
- Alimentos secos que não levam muitos ingredientes perecíveis aguentam até 90 dias
“Por alimentos secos, estamos falando de uma massa de pizza pronta, sem mais nada, por exemplo. Uma pizza recheada, com molho, queijo e outros ingredientes perecíveis, a validade já cai para 45 dias”, explica Lambert. “O mesmo vale para uma massa de pão contra um pão recheado”.
O freezer não vai fazer os alimentos durarem para sempre, mas é difícil lembrar quando eles foram colocados ali dentro. “Uma dica importante é buscar etiquetar os alimentos com a data de validade baseada em quando você guardou ele ali, para não se perder”, completa a gastrônoma.
Abaixo, veja uma lista de geladeiras e itens para te ajudar a colocar as técnicas de congelamento em prática. Quando consultados on-line, em agosto, os potes custavam de R$ 30 a R$ 120, enquanto os eletrodomésticos variavam entre R$ 1.140 a R$ 6.200.
Fonte: Portal G1 / Foto: Imagens Públicas