Especialistas temem reflexos nos preços de commodities, sementes e alimentos, podendo gerar um cenário de inflação mundial
Com o avanço da guerra de Israel, os Bancos Centrais de diversos países entraram em um momento de análise dos fatos. Enquanto o conflito ainda tem caráter local, não há uma expectativa de um novo choque inflacionário, ou pelo menos um incremento no curto prazo.
As autoridades monetárias estão em alerta com os caminhos que o confronto podem tomar, porém, economistas ouvidos afirmam que ainda é muito cedo para prever alguma mudança nas atuais políticas de juros.
Segundo Alexandre Jorge Chaia, professor de economia do Insper, ainda não há necessidade de nenhum Banco Central se antecipar aos eventos.
Em relação aos Estados Unidos, ele explica que, no curto prazo, a guerra de Israel não impactará nos juros. Os sinais da economia nos últimos dias, como a situação do mercado de trabalho apresentada pelo Payroll, já indicam que as taxas estão próximas do limite.
Para ele, as declarações do Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA), assim como as posições de outros Bancos Centrais, serão de que não adianta tentar implementar nenhuma medida estruturante agora, já que ainda não se sabe o tamanho do impacto da guerra, quanto será gasto e quanto terá de efeito na economia mundial.
“O Fed vai ser cauteloso. Vai esperar ter pouco espaço para ter um afrouxamento em um curto prazo”, diz.
Ele explica que, se esse evento virar um conflito com repercussão no mundo árabe, a chance de um impacto no preço do petróleo aumenta.
“Se, por exemplo, houver uma sanção contra o Irã, uma restrição maior ou uma tomada de posição, pode resultar em uma piora na oscilação do preço da commodity”, acredita.
Chaia mostra que o petróleo subiu 4% no primeiro dia da guerra e se fechou nesta terça-feira (10) sem nenhum grande salto, indicando que o mundo todo aguarda qual o caminho que o conflito seguirá.
Na visão de Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, por enquanto, a necessidade é entender como os mercados vão reagir a essa nova fonte de incerteza — não lidando com a questão monetária, mas com a econômica.
Perfil da guerra
Victal destaca que, por enquanto, os consultores geopolíticos destacam que o caráter do conflito tem se mantido local, entre Israel e Hamas, e concentrado na Faixa de Gaza. Então, o impacto global tem sido visto como reduzido.
“É um ponto de avaliação e incerteza, e os Bancos Centrais avaliaram uma necessidade de monitoramento da situação. O principal canal de contágio potencial, num primeiro momento, seria o petróleo.”
De acordo com a economista, o que deve ser feito neste cenário é o monitoramento da situação, principalmente nos países árabes.
“Deve-se avaliar se haverá uma reação mais incisiva contra Israel, que poderia gerar alguma reação por parte dos países ocidentais, da Europa, EUA. Mas, por enquanto, não é o que está acontecendo. O que está sendo observado é o empenho dos países árabes em tentar em manter um diálogo.”
Chaia, do Insper, ressalta que, se o conflito se espalhar na região, incluindo o Egito, por exemplo, o fluxo de transporte apresentará uma dificuldade logística como se teve durante a pandemia da Covid-19.
“Isso pode impactar preço de sementes, preço de alimentos, o que também geraria um impacto de inflação mundial.”
“O impacto está muito mais ligado à perspectiva de aumento de preço de commodities, que pode levar a um repique da inflação que já estava começando a se conter, do que ter um efeito de guerra, de uma resseção”, diz.
Impactos nos preços
Dependendo dos próximos passos da guerra, e de como outras nações forem entrando no cenário, a economia global pode se deparar com uma situação que pode impactar o preço do petróleo e commodities.
Chaia esclarece que, se isso acontecer, haverá um repique de inflação, o que dificultará um possível afrouxamento monetário e, consequentemente, levar o aumento dos juros.
“Os EUA, por exemplo, estão com um problema estrutural, com uma força de trabalho em excesso. Ou seja, está com muita vaga de emprego para pouca gente. Já na Europa, essa situação de excesso de emprego não existe. A região passou por dificuldades econômicas nos últimos anos, e atualmente há bastante gente desempregada, além de estarem passando por problemas com imigrantes por conta da guerra da Ucrânia.”
Ele aponta que não há uma demanda reprimida muito grande na Europa, portanto, o conflito no Oriente Médio reflete menos.
Reflexos no Brasil
Já no Brasil, o impacto econômico gerado pela guerra de Israel é um pouco distante, porém, o mercado segue atento aos desdobramentos para os juros.
“Não há necessidade de mudar o plano de voo. Os Estados Unidos tem as questões internas que se sobrepõe num primeiro momento, semelhantes no Brasil e Europa”, diz Victal.
Fonte: CNN Brasil / Foto: Reuters