Vômito, lixo fora do cesto, limo nas paredes e banheiro interditado são parte do cenário onde pacientes pós-operadas fazem recuperação
Falta de higiene. Esta é a principal queixa de quem passou pela maternidade Cândido Mariano na última semana de outubro e precisa de tratamento pós-operatório. No quarto onde os pacientes são acomodados, vômito, lixo fora do cesto, limo nas paredes e banheiro interditado são parte do cenário de horror onde mães precisam ficar para conseguirem tratar as condições de saúde.
Uma das mulheres que está internada na maternidade entrou em contato com a imprensa para denunciar a situação insalubre. A mulher pediu para não ser identificada, por medo de sofrer represálias no atendimento médico. A paciente relatou que a situação encontrada na maternidade é precária.
Internada desde a quinta-feira (24) para fazer uma cirurgia de retirada do útero e do ovário, a paciente relata que havia recebido alta no domingo de manhã, mas que precisou voltar às 2h30 da manhã da segunda-feira por causa de uma infecção no rim.
“Eu já estava desmaiando de dor no rim. Eu fiz um ultrassom na segunda-feira (28) de manhã e deu que estou com infecção no rim. Eu não tenho como lhe provar se peguei daqui, mas diante da situação, eu tenho certeza de que foi daqui. Tem outras pacientes aqui no quarto que já vêm de outros quartos e que afirmam o mesmo. Aqui comigo tem 3 pessoas com relato de infecção no pós-cirúrgico”, destacou.
Segundo a paciente, a falta de zelo compromete a recuperação. “Sábado (26) eu passei mal e vomitei do lado da minha cama. Uma moça da enfermaria trouxe um lençol e colocou em cima do vômito e disse que as meninas da limpeza iriam demorar. Já eram umas 9h da manhã do domingo e ainda não tinha sido limpo”, relatou a reportagem.
Além disso, em vídeo, é possível verificar as queixas relatadas. Lixo fora do cesto, paredes com limo e acúmulo de água no chão são parte do cenário que deveria ser, teoricamente, um local de descanso.
Ainda segundo a mulher, o marido de uma das pacientes solicitou aos funcionários da maternidade a limpeza de um dos banheiros. No entanto, foi dito que, como acompanhante, ele não poderia utilizar o banheiro. “Ele está com a esposa dele internada, inclusive com infecção no pós cirúrgico”, avaliou a paciente.
Sequência infecciosa
Uma outra paciente acredita que a sequência de infecções hospitalares sofridas é acarretada pela falta de higiene na maternidade
Internada para fazer uma laqueadura no dia 19 deste mês, a paciente, há mais de 10 dias, tem vivido uma rotina exaustiva após ser acometida por uma infecção, que começou em um dos pontos da cirurgia e agora se espalhou para a perna e o quadril.
“O pessoal da recepção falou que estavam chegando muitas mulheres e o risco de contaminação seria alto e, por isso, eles achavam que fariam uma laqueadura tubária, pelo umbigo. Porém, não foi e fizeram cesariana em todo mundo”, revelou.
A paciente com infecção relembra que sentiu uma dor forte após o procedimento e, como nunca tinha feito cesariana, não tinha um parâmetro, mas que percebeu uma recuperação com muita dificuldade, sem conseguir descer da cama e fazer coisas simples. Ao receber alta, o quadro clínico não melhorou. A paciente continuou a sentir dor e inchaço na região da cicatriz e se intensificou com o passar dos dias.
“No sábado de manhã, eu já não aguentava mais, muita tontura e muita febre, voltei para a Cândido Mariano. Falaram que eu iria fazer o ultrassom, a drenagem, tomar o antibiótico e ir para a casa porque eu tenho criança pequena. Mas, não foi isso que aconteceu. Eu fiquei aqui no quarto tomando medicação e no segundo dia de madrugada rompeu um ponto que estava bem cicatrizado, mas mesmo assim rompeu e foi, por onde saiu toda a infecção, esperaram estourar com a medicação. Agora estão fazendo a drenagem, eu estou aqui internada e a minha infecção a médica falou que está bem alterada”, desabafou.
A princípio, a paciente atribuiu que poderia ser devido à sujeira dos banheiros. Como estava com muita dor, em primeiro momento ela afirma não ter reparado nas instalações. Mas, após um comentário da mãe e ao precisar tomar banho, ela passou a reparar nas condições do local.
“Minha mãe ainda questionou no quarto: ‘nossa, mas eu não estou vendo essas meninas limparem o banheiro’ e eu nem prestei atenção. Mas, quando eu fui tomar banho, realmente, eu me recordo que o ralo estava cheio de cabelo, a pia toda suja, molhada e você via que estava bem sujo mesmo. Eu até achei que a infecção era por conta disso e eu questionei a médica”, relembrou.
Quanto a resposta sobre seu problema, a paciente obteve a explicação de uma das médicas da maternidade. Para a mulher, a médica disse que o que pode ter causado a infecção é o resquício da reforma feita no local ou a segunda explicação, seria que o equipamento pode ter sido mal esterilizado.
“A minha cirurgia é diferente das 3 que estão aqui e todas estão com infecção. Alguma coisa tem errado com o hospital, não é com a gente”, disse a paciente.
Ainda em investigação do que poderia ter causado o problema, a paciente afirmou que um dos enfermeiros explicou que “tiveram problemas com a máquina deles de esterilização e estavam mandando para outro lugar, então pode ter sido isso que aconteceu”.
Nota Candido Mariano
Em resposta a situação, a diretoria da maternidade informou, em nota, que a “CCIH (Comissão de Controle de Infecção Hospitalar) é atuante e devidamente registrada e fiscaliza e monitora os possíveis casos de infecção hospitalar”.
Ainda em explicação aos casos apontados, a nota destaca que a maternidade Cândido Mariano possui “um dos menores índices de infecção hospitalar. Quando ocorre um caso, o mesmo é acompanhado e devidamente tratado. Quando ocorre mais de um caso semelhante notificado, toda a estratégia de segurança do paciente é revista. No momento, temos dois casos de infecção de sítio cirúrgico em tratamento”, pontuou a diretoria.