A afirmação foi feita nesta sexta-feira (29), no painel que discutiu as oportunidades de transição energética para o estado, do Fórum de Bioenergia, na Casa da Indústria, em Campo Grande.
Mato Grosso do Sul pode liderar, em âmbito global, a produção de SAF, o biocombustível de aviação feito a partir do etanol. A afirmação foi feita nesta sexta-feira (29) pelo CEO da Atvos, Bruno Serapião, durante o painel que discutiu as oportunidades de transição energética para o estado no Fórum de Bioenergia, realizado na Casa da Indústria, em Campo Grande.
A Atvos é um dos principais players na produção de bioenergia no país, com três unidades em Mato Grosso do Sul.
“O SAF é um combustível para aviação que é idêntico… é a mesma molécula do querosene de aviação. Em um avião, você não vai perceber a diferença, mas ele emite menos [gases de efeito estufa]. E essa decisão [de uso do SAF] é uma decisão também tomada por tecnologia brasileira, já que temos hoje no mercado três empresas que definem o futuro tecnológico da aviação: Boeing, Airbus e Embraer”, comentou.
Serapião destacou que o Brasil, e especialmente Mato Grosso do Sul, tem uma excelente oportunidade no que se refere à produção desse tipo de biocombustível, mas que é necessária a criação de uma legislação nacional sobre o tema.
“Eu não tenho SAF em nenhum lugar do mundo. Aqui (MS) é o lugar mais econômico para fazer o SAF. Eu não transporto [a matéria-prima] com etanol, somente o produto final, e tenho uma demanda local. Então, o que eu preciso? Preciso ter as mesmas condições de instalação da planta que alguns países têm, onde há isenções para a industrialização.”
Ele explicou que a tecnologia do SAF está em processo de desenvolvimento, já que atualmente o biocombustível ainda custa mais do que o querosene de aviação. Contudo, ressaltou que o Brasil precisa assumir rapidamente a liderança nesse processo. “Temos que regulamentar primeiro e mostrar que temos negócios aqui para nos tornarmos o padrão mundial. Se ficarmos esperando, o padrão mundial será definido de forma diferente.”
Serapião também destacou a dimensão do mercado para esse tipo de biocombustível. “Temos enormes oportunidades para o Brasil. A demanda de SAF, considerando apenas 10% do mercado mundial, é de 80 bilhões de litros de etanol. No Brasil, produzimos, neste ano, 33,8 bilhões de litros [produção do Centro-Sul no ciclo 2023/2024]. Então, temos a possibilidade de dobrar a produção brasileira apenas para atender a um mercado potencial de 10%. É um mercado enorme. Temos as fábricas em operação, temos o estoque e podemos construir isso em Mato Grosso do Sul. Temos todos os elementos necessários”, pontuou.
Mato Grosso do Sul processou, no ciclo passado, 3,8 bilhões de litros de etanol, considerando o uso de cana-de-açúcar e milho como matérias-primas, sendo o quarto maior produtor brasileiro do biocombustível.
Carbono Neutro
O presidente da Associação dos Produtores de Bioenergia de Mato Grosso do Sul (Biosul), Amaury Pekelman, avalia que, além da implementação do SAF como principal alternativa para atingir as metas de neutralização de carbono no setor aéreo, a Lei do Combustível do Futuro, sancionada em outubro, amplia as perspectivas de crescimento do setor no país.
“Temos a produção de biometano, o aumento do percentual de mistura do etanol na gasolina, de 27% para 30%, e do biodiesel no diesel, de 13% para 15%. Essas mudanças mostram como o Brasil lidera a transição energética no mundo, com projetos diferenciados e de alta tecnologia, que desenvolvemos e que são referências mundiais no setor.”
O evento foi uma iniciativa do LIDE Mato Grosso do Sul e da Biosul, com apoio do Sistema Fiems e da Reflore-MS.