Doença comum nesta época do ano, ela provoca tosse e febre, sintomas parecidos com os do novo coronavírus. Veja como diferenciá-los
O QUE É?
Chamamos de sinusite a inflamação da mucosa que envolve os seios da face – que são as cavidades ósseas localizadas ao redor do nariz, das maçãs do rosto e dos olhos. Há um fluxo contínuo de secreção na região, que ajuda a eliminar organismos estranhos, causadores de possíveis problemas para o corpo. Quando esse processo é interrompido – por alterações anatômicas, infecções e alergias, por exemplo –, vírus, bactérias ou fungos conseguem se concentrar no local e se multiplicar com maior facilidade. O resultado? Sinusite à vista
(ou rinossinusite, como preferem os especialistas).QUAIS SÃO OS TIPOS?
As rinossinusites podem ser virais (causadas por vírus), bacterianas (causadas por bactérias), ou ainda causadas por fungos – o que, em alguns casos, exige intervenção cirúrgica para desobstruir a cavidade nasal. Elas também podem ser agudas, ou seja, com sintomas que duram cerca de dez dias; ou crônicas, quando a crise persiste por mais tempo. A inflamação pode se manifestar na testa (frontal), nas maçãs do rosto (maxilar), entre o globo ocular e o nariz (etmoidal), na lateral ou no vértice da cabeça (esfenoidal) ou comprometer todas as cavidades (pansinusite). Os tipos agudos são os mais comuns durante a infância.
QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS SINTOMAS?
Nas crianças pequenas, os principais sintomas são tosse e congestão nasal, com secreção tipo muco, que pode ser transparente, de consistência fina, ou esverdeado e mais grosso. Febre, dores musculares, mal-estar e perda de apetite também podem ocorrer. Apenas crianças maiores de 10 anos ou adolescentes e adultos costumam apresentar as clássicas dores de cabeça nos casos de rinossinusites crônicas.
É COMUM NA INFÂNCIA?
Sim, principalmente por causa da imaturidade do sistema imunológico e de fatores ambientais que facilitam a transmissão de micro-organismos. De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a doença é bastante frequente até os 7 anos, podendo ocorrer de seis a dez vezes ao ano nessa faixa etária.
CRIANÇAS ALÉRGICAS ESTÃO MAIS PROPENSAS? Sim, a chance é maior, já que processos alérgicos provocam inflamações das mucosas e funcionam como um abre-alas para os causadores da sinusite. Além disso, o nariz costuma ficar mais inchado, o que prejudica a eliminação de secreções e favorece a ação dos agentes infecciosos.
COMO É FEITO O DIAGNÓSTICO?
A avaliação é clínica e, nas crianças, não há necessidade de exames de imagem. O médico investiga o histórico e verifica quando começaram os sintomas. Diferenciar as causas é difícil, mas algumas pistas ajudam. Por exemplo, na sinusite viral costuma haver febre baixa, fluido nasal grosso, tosse e dor de garganta. Na bacteriana, a febre é alta (39°C), o nariz fica entupido e a secreção tem cor amarelada ou mais escura.
É FÁCIL IDENTIFICAR OS CASOS CRÔNICOS?
Sintomas que duram mais de 12 semanas podem indicar casos crônicos, embora o quadro não seja comum na infância. Quando acontece, o diagnóstico costuma estar relacionado a alergias, aspectos físicos, como desvios de septo, e a fatores como refluxo ou fibrose cística (uma doença genética que afeta os aparelhos digestivo e respiratório e as glândulas sudoríparas). As alterações anatômicas podem dificultar a drenagem das secreções e abrir uma porta para vírus, bactérias e fungos que causam a sinusite. É fundamental tratar primeiro a doença por trás do problema. Procure um pediatra. A orientação de um profissional é importante para confirmar o diagnóstico e realizar o tratamento mais adequado.
O QUE PODE DISPARAR UMA CRISE?
Uma das principais causas é a gripe comum, que baixa a guarda do organismo e abre caminho para bactérias. Já ambientes com ar-condicionado ou clima muito seco ajudam a disseminar fungos que se alojam nos seios da face. Outro agravante são os ambientes com excesso de pó. A poeira provoca alergias, o que causa inchaços no nariz e favorece o acúmulo de secreções.
E O TRATAMENTO?
Conhecer o agente causador da sinusite é fundamental para determinar o tratamento da doença. A sinusite viral é tratada como uma gripe, com analgésicos e descongestionantes que controlam os sintomas. As lavagens nasais com soro fisiológico ajudam a diminuir a obstrução nasal e a tosse decorrentes da secreção no nariz. Assim como outras infecções virais, a tendência é melhorar em até dez dias. Já as bacterianas requerem antibióticos receitados pelo pediatra. O mesmo tipo de remédio é indicado em casos crônicos, tratamento muitas vezes complementado com descongestionantes, expectorantes e corticoides tópicos. Eles são administrados durante três semanas, no mínimo. Para a sinusite fúngica, o tratamento pode ser cirúrgico ou medicamentoso.
QUAIS AS MEDIDAS PARA EVITAR O PROBLEMA?
Fugir de ar-condicionado e de ambientes muito secos é uma maneira de contornar possíveis gatilhos. Mas o maior segredo é a hidratação. A água tem papel decisivo quando o assunto é sinusite, pois umidifica e dilui as secreções. Assim, elas são eliminadas com mais facilidade. Como referência, bebês de 7 a 12 meses devem beber 800 ml de líquidos por dia (incluindo o leite materno). Entre 1 e 3 anos, são 900 ml. Dos 4 aos 8, a ingestão deve ser de 1,2 litro. Nas épocas mais secas e frias, fazer a lavagem nasal diariamente é uma boa alternativa para prevenir a doença. Outra dica é a inalação a vapor, que faz uma limpeza completa das vias aéreas. O ressecamento do nariz favorece o acúmulo de impurezas e facilita a proliferação de bactérias.
A ALIMENTAÇÃO É ALIADA NA PREVENÇÃO?
Com certeza. Alimentos ricos em vitamina C, como laranja e acerola, são ótimas opções para fortalecer o sistema imunológico. Tomar chás quentes e comer abacaxi, fruta que tem propriedades expectorantes, também pode ajudar a amenizar os sintomas.
COMO DIFERENCIÁ-LA DA COVID-19?
Os sintomas mais comuns da covid-19 em crianças são dor de garganta e tosse, geralmente seca. Pode ainda ocorrer perda do olfato nas mais velhas, mas não há secreção nasal abundante e muito menos purulenta como na rinossinusite. Vale explicar, porém, que a covid-19, como pode causar quadro gripal, pode desencadear uma sinusite aguda de origem viral, embora não
haja registros frequentes.
A SINUSITE PODE ‘MASCARAR’ A COVID-19?
Se houver catarro intenso no quadro de covid-19 – embora isso seja pouco frequente –, a doença até pode ser confundida temporariamente com uma sinusite aguda viral. Porém, a evolução temporal e os tipos de sintomas das duas condições são diferentes e, em geral, serão fáceis de distinguir em poucos dias. No caso do novo coronavírus, os sintomas mais frequentes são febre, mal-estar, dores musculares e tosse, que duram de duas a três semanas, podendo evoluir para falta de ar nos casos mais graves. Perdas de olfato e de paladar também têm sido descritas, mas em geral não ocorrem sintomas persistentes, por mais de 12 semanas, como acontece com a perda do olfato na sinusite crônica.
A COVID PODE PIORAR O QUADRO DE SINUSITE?
Sim. Em um paciente com uma sinusite crônica prévia, a infecção das vias aéreas pelo novo coronavírus poderá amplificar e agravar o quadro da sinusite pré-existente. A covid-19, porém, raramente tem complicações nos seios da face.
CRIANÇAS COM SINUSITE SÃO MAIS PROPENSAS À FORMA GRAVE DA COVID? Teoricamente, devido à infecção da via aérea ocasionada pela sinusite, qualquer pessoa com o quadro, independentemente da idade, terá maior risco de ser infectada pelo novo coronavírus. Entretanto, não há estudos demonstrando que essa infecção seria de maior gravidade. Estudos com pacientes asmáticos – uma doença também inflamatória e crônica da via aérea – apontam que pessoas tratadas e controladas adequadamente parecem não ter maior risco de infecção pelo novo coronavírus e nem são mais propensas à manifestação grave. Por isso, em caso de doença respiratória prévia, alérgica ou não, é fundamental mantê-la bem controlada com uso da medicação indicada pelo médico. Informações: revistacrescer.globo.com / imagem da capa: Criança assoando o nariz (Foto: Getty Images)