Relação entre os dois países está congelada há quase um ano, após pedido de investigação sobre origens da Covid-19
País com forças armadas muito menores e sem armas nucleares, a Austrália decidiu insinuar uma guerra com a China. Em 25 de abril, a data simbólica do Dia de Anzac, quando a Austrália homenageia seus mortos na guerra, o recém-nomeado Ministro da Defesa, Peter Dutton, disse que um conflito com a China sobre Taiwan não deveria “ser descartado”, acrescentando que os australianos precisam ser “realistas” sobre as tensões na região.
Em outra mensagem durante o Dia de Anzac, a principal autoridade do poderoso departamento de Assuntos Internos da Austrália, Mike Pezzullo, disse a sua equipe que “nações livres” estavam ouvindo os “tambores da guerra” bater novamente.
Poucos dias depois, o primeiro-ministro Scott Morrison anunciou US$ 580 milhões em modernizações militares. Uma semana depois, vários jornais publicaram instruções confidenciais do major-general da Austrália, Adam Findlay, aos soldados das forças especiais, nas quais ele disse que o conflito com a China era de “alta probabilidade”.
A ideia de a Austrália travar uma guerra contra a China por conta própria é ridícula. No ano passado, os gastos militares da Austrália foram de cerca de US$ 27 bilhões, de acordo com o Instituto de Pesquisa Stockholm International Peace. Os gastos da China, no mesmo período, foram quase 10 vezes mais, estimados em cerca de US$ 252 bilhões, o segundo maior do mundo.
Além disso, a China é uma potência nuclear. Já a Austrália, não.
As relações entre Canberra e Pequim estão congeladas há quase um ano, desde que Morrison e seu governo enfureceram o governo chinês ao pedir publicamente uma investigação sobre as origens da pandemia de Covid-19. Desde então, as exportações australianas para a China – incluindo carvão, trigo e vinho – tem enfrentado muitos obstáculos.
O governo australiano se moveu para confrontar Pequim sobre as alegações de abusos dos direitos humanos em Xinjiang e Hong Kong, e o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, se juntou à mídia estatal para destacar o fraco histórico de direitos humanos da Austrália sobre refugiados e indígenas australianos.
Mas muito da retórica de guerra da Austrália é na verdade impulsionada pela política interna, disse Yun Jiang, editora-chefe do Centro sobre a China no Mundo, da Universidade Nacional da Austrália. O governo de Morrison está sob pressão por causa das alegações de que tratou mal a campanha de vacinação contra a Covid-19 e pode estar tentando mudar o foco.
“Concentrar-se em um inimigo externo geralmente tem sido bastante eficaz para unir o sentimento público e se reunir em torno do governo”, disse ela. “Eu acho que é irresponsabilidade do governo falar sobre isso assim. Guerra é um assunto muito sério”.
As palavras do governo australiano, no entanto, podem refletir preocupações reais sobre a possibilidade de uma invasão chinesa em Taiwan – um conflito que poderia envolver toda a região da Ásia e até mesmo os Estados Unidos. Mas essa perspectiva aterrorizante, disse Yun, é provavelmente o motivo pelo qual outros aliados dos EUA, mais próximos da esfera de influência de Pequim, como a Coreia do Sul e o Japão, não estão ecoando a linguagem agressiva de Canberra.
Informações: CNN Brasil / Foto: Getty Images