Uma equipe de técnicos da organização global Aldeias Infantis SOS destacou a estrutura e a dinâmica de trabalho realizada nas unidades da Assistência Social do Município. O grupo esteve nesta semana na Unidade de Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes – IV (UAICA), destinada a adolescentes do sexo masculino na faixa etária de 12 a 18 anos incompletos, e na Unidade de Acolhimento Institucional para Adultos e Famílias – I (UAIFA).
O grupo esteve em Campo Grande para apresentar o resultado de uma pesquisa nacional, realizada entre novembro de 2022 e março deste ano e que abrangeu todas as regiões do país, incluindo os 23 estados, Distrito Federal e mais de 200 municípios, entre eles, Campo Grande e que mostra a realidade de crianças e adolescentes afastados do convívio familiar e que estão em serviços de acolhimento. No total foram ouvidas 32 mil crianças e adolescentes.
A pesquisadora Marlene Veiga Espósito, responsável pelo levantamento em Mato Grosso do Sul e que realizou as visitas em três UAICA’s na Capital, explicou que fez as entrevistas por meio de formulários e analisou as respostas sobre o sentimento dos adolescentes e crianças quanto ao acolhimento e a rotina nas unidades.
“Fiz uma roda de conversa para que eles falassem da vida dentro da unidade e como era antes de chegarem lá. Gostei dos espaços e observei que com relação aos servidores há uma grande motivação para trabalhar nas unidades, isso ajuda os acolhidos a ressignificar as vivências sofridas. Eles estão ali para passar um tempo e ter uma perspectiva de retorno para a família ou reconstruir a vida após sair de lá e há essa preocupação dos servidores que têm um olhar humanizado para essas questões”, afirmou Marlene.
A pesquisadora ressaltou que as UAICA’s devem proporcionar a convivência social já que, salvo por determinação judicial, os acolhidos têm liberdade de trânsito. “Eu percebi que tem esse cuidado nas unidades de Campo Grande, inclusive alguns meninos relataram até que já trabalham e estudam e saem da unidade para realizar essas atividades”, pontuou.
O trabalho nas quatro Unidades de Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes, além das cinco Organizações da Sociedade Civil (OSC’s) cofinanciadas que também realizam o serviço na Capital, é pautado no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), no Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes a Convivência Familiar e Comunitária, e no Sistema Único de Assistência Social (SUAS), previstas na Resolução nº 109/2009 que aprova a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais para Crianças e adolescentes de zero a 18 anos incompletos sob medida protetiva de abrigo.
As unidades oferecem acolhimento de crianças e adolescentes, afastados do convívio familiar por meio de medida protetiva, em função de abandono pelo fato das famílias ou responsáveis estarem temporariamente impossibilitados de cumprir sua função de cuidado e proteção. Os espaços buscam reproduzir o ambiente familiar, inclusive na estrutura física, com quartos, ambientes para estudo, sala de estar, sala de jantar/copa, cozinha, banheiros, área de serviço, área externa e área técnica
Os acolhidos são acompanhados por equipes especializadas de técnicos, Assistente Social e Psicólogos, cuidadores e cozinheiras. As UAICA’s trabalham em parcerias com projetos desenvolvidos por universidades, com o Projeto Padrinho, do Judiciário, que proporciona apadrinhamento afetivo e financeiro, com clínicas, parceiros e empresas que têm o objetivo de proporcionar atividades de cultura, esporte, lazer e o ingresso ao mercado de trabalho aos adolescentes.
População em situação de rua
Já durante a visita à UAIFA I, a equipe conheceu o trabalho de abordagem realizado pelo Serviço Especializado em Abordagem Social (Seas) e de acolhimento ofertado pelas quatro unidades de acolhimento do município.
“Os observadores ficaram impressionados com a dinâmica do atendimento. Campo Grande é um município que tem esse cuidado com as pessoas em situação de rua”, ressaltou a pesquisadora.
Nas unidades de acolhimento, o usuário recebe quatro refeições diárias. As unidades também têm parcerias com outras secretarias municipais, como a Funsat, que faz os encaminhamentos para oportunidades de trabalho. Quem não tem documentos, conta com o trabalho dos técnicos, que fazem uma busca ativa para ver se a pessoa tem RG, CPF, carteira de trabalho. Caso ela tenha, é pedido 2ª via, ou encaminhado para fazer os documentos. No caso de estrangeiros, eles são levados à Receita Federal e Polícia Federal para regularizarem a estada no país.
Nas UAIFA’s também são desenvolvidos projetos e ações que buscam a reinserção social e elevam a autoestima do usuário, como capacitações, palestras, cultivo de horta e Dia da Beleza.
A superintendente de Proteção Social Especial da SAS, Tereza Cristina Miglioli Bauermeister, falou sobre a importância da pesquisa e da visita realizada. “Para nós é fundamental receber organizações e entidades que contribuem com o aperfeiçoamento do nosso trabalho. Essas visitas servem como um feedback dos serviços que oferecemos aos usuários e auxiliam no aprimoramento da Rede de Assistência Social”, ressaltou.
A organização
A Aldeias Infantis SOS é uma organização humanitária que atua no Brasil há 55 anos e mantém mais de 80 projetos, em 31 localidades do país e atua junto com famílias em risco de se separar, fornecendo cuidados alternativos para crianças e jovens que perderam o cuidado de seus responsáveis. Premiada quatro vezes como uma das 100 melhores entidades do país na defesa e proteção de crianças e adolescentes, a organização ainda atua em 137 países e territórios.-