Droga que funciona como anestésico seguro na Medicina pode ter efeitos colaterais perigosos e ser viciante se usada de maneira recreativa
A cetamina tem uma história sólida na Medicina, porém, além de suas aplicações clínicas, também é utilizada como droga recreativa.
Esta utilização fora do contexto médico apresenta uma série de efeitos, riscos e consequências que são importantes de entender.
O que é a cetamina?
A cetamina, também conhecida como ketamina, é um anestésico dissociativo que tem sido amplamente utilizado na medicina desde sua introdução na década de 1960.
Originalmente desenvolvida para substituir a fenciclidina (PCP), que tinha efeitos colaterais severos, a cetamina rapidamente se tornou popular devido à sua eficácia.
A substância possui regulamentação de órgãos como a Food and Drugs Administration (FDA), agência reguladora nos EUA, e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Está presente na Lista de Medicamentos Essenciais da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Nas últimas décadas, além de seu uso como anestésico, a Medicina tem explorado a cetamina também por suas propriedades terapêuticas em outras áreas, como o tratamento da depressão resistente e da dor crônica.
Os efeitos alucinógenos da cetamina como droga recreativa
Apesar do uso seguro para fins médicos, a cetamina é perigosas quando usada como droga ilícita para uso recreativo.
Quando tomada em doses menores do que as usadas clinicamente, a cetamina pode induzir uma variedade de sensações que incluem desconexão da realidade, despersonalização e alucinações.
Sensações causadas pela cetamina:
- Dissociação: sensação de separação do corpo e do ambiente. Muitos usuários relatam experiências fora do corpo ou a sensação de flutuar.
- Euforia: sensação de bem-estar e prazer intenso.
- Alucinações: distorções visuais e auditivas que podem variar de leves a intensas.
- Despersonalização: sentimento de desapego de si mesmo, onde a pessoa pode se sentir como se estivesse observando suas ações de fora.
Esses efeitos começam rapidamente, geralmente dentro de minutos após a administração, e podem durar de 30 minutos a uma hora, dependendo da dose e da via de administração.
Como se dá o mecanismo da ação da cetamina?
A cetamina exerce seus efeitos dissociativos ao atuar como antagonista dos receptores N-metil-D-aspartato (NMDA) no cérebro, interferindo na neurotransmissão do glutamato.
Esta interferência provoca uma desaceleração da comunicação neuronal, levando às sensações de dissociação e alucinação.
Além disso, a cetamina também afeta os sistemas de neurotransmissores dopaminérgico e serotoninérgico, o que contribui para seus efeitos eufóricos e psicodélicos.
Os efeitos colaterais indesejados incluem: agitação, depressão, dificuldades cognitivas, inconsciência e amnésia. Movimento ocular involuntariamente rápido, pupilas dilatadas, salivação, secreções lacrimais e enrijecimento dos músculos, possível náusea.
O Transtorno de Percepção Persistente de Alucinógenos (HPPD) foi relatado várias semanas após o uso de cetamina e pode incluir distúrbios visuais prolongados.
Quais as possíveis consequências do uso de cetamina como droga?
Dependência e tolerância:
O uso regular de cetamina pode levar à dependência, onde o usuário sente a necessidade de usar a droga repetidamente. A tolerância também se desenvolve rapidamente, exigindo doses maiores para alcançar os mesmos efeitos.
Efeitos cognitivos:
O uso crônico pode resultar em déficits cognitivos, incluindo problemas de memória e dificuldades de concentração. Estudos sugerem que a cetamina pode causar danos a longo prazo ao cérebro, afetando sobretudo suas funções cognitivas.
Cistite induzida por cetamina:
Uma condição dolorosa que afeta a bexiga urinária, causando sintomas como dor ao urinar e urgência urinária. Além disso, em casos graves, danos permanentes à bexiga.
Efeitos psiquiátricos:
O uso de cetamina pode exacerbar condições psiquiátricas preexistentes, como ansiedade e depressão. Além disso, os efeitos dissociativos podem ser perturbadores e causar experiências traumáticas em alguns usuários.