A principal via do Centro de Campo Grande será fechada no fim de semana, das 20h às 23h30, como iniciativa para reavivar e expandir o comércio noturno na rua. A medida é pontual e de caráter experimental.
Segurança, animação, cultura e o povo se uniram como um verdadeiro samba democrático ao longo da rua 14 de Julho, tida como a “veia arterial” do Centro de Campo Grande. Na última sexta-feira (23), a primeira noite com a interdição da via para livre acesso à população, a região central voltou a pulsar compassadamente.
A noite dessa sexta foi a pioneira no projeto que vai interditar a rua 14 de Julho, entre as ruas Maracaju e Antônio Maria Coelho, ao longo do fim de semana. A proposta foi anunciada pela prefeitura de Campo Grande nos últimos dias, como um teste para impulsionar o comércio e a vida noturna na via.
A medida chega um tanto quanto atrasada, como avaliam empreendedores da região e pessoas que começaram a frequentar bares na região. A rua 14 de Julho já enfrentou vários revezes nas tentativas de impulsionar o Centro.
Em 2019, a via foi completamente revitalizada. Um ano depois, a pandemia impediu os planos pretendidos para o trecho. Agora, em 2024, a rua, que sempre foi voltada ao comércio diurno, ilumina as noites de Campo Grande.
Nesta toada, o reflexo da interdição se mostrou efetivo pela quantidade de pessoas que lotou os dois quadriláteros disponíveis para a população. Durante a “noite teste”, rodas de samba, pagode, DJ’s e artistas regionais oferecerem muita música e curtição.
O primeiro dia de fechamento da rua foi bem aceito pelo público. A servidora da área de recursos humanos Daniela Ira foi pela primeira vez ao local nessa sexta. “Achei ótimo ter fechado, essa 14 estava morta. Estão revivendo a rua. Eu acho uma loucura gostosa, estão incentivando. Tem que ter a cultura pulsando”.
A advogada Margareth Melo aproveitou o samba para arriscar nos passos de dança no asfalto livre de carros. “A gente estava se divertindo. Nós já viemos em outros momentos. Esta é a primeira vez com a rua toda fechada, só para nós. Achei sensacional, deu espaço para nós curtirmos, dançarmos e tudo isso sem perigo. Sem se preocupar com o trânsito”.
Reduto: boemia, música e celebração
Rua foi tomada pela população. — Foto: Lucas Oliver/TV Morena
Augusta para São Paulo. Lapa para o Rio de Janeiro. Savassi para Belo Horizonte. 14 para Campo Grande. Buscar comparações em determinadas situações é inevitável. Porém, é na singularidade que a rua 14 de Julho caminha, na capital de Mato Grosso do Sul, para se tornar um reduto boêmio democrático.
Do samba ao rock. Do pago ao eletrônico. Do drink mais caro à bebida mais cara. Do petisco ao prato de comida um pouco mais sofisticado. A rua 14 de Julho oferece, timidamente, algumas possibilidades aos consumidores noturnos.
Na 14 de Julho, os bares começaram a se instalar ativamente no fim de 2023. No Carnaval deste, outros empreendimentos apostaram na rua como possibilidade de negócio. A atriz e empresária Nicoli Dichoff viu na região uma possibilidade de migrar o negócio que tinha em outro ponto do Centro.
“Decidimos vir para 14 no Carnaval deste ano. Buscamos um lugar para receber mais pessoas. A vinda dos bares não é só um desejo nosso, mas um produto fruto de uma demanda. Não tínhamos um reduto de bares tão claro. Estamos em um lugar democrático, que tem uma convivência de apoio. Ocupamos um Centro que estava morto na parte da noite, agora não mais”.
Roda de samba se formou na rua interditada. — Foto: José Câmara
O empresário Kaike da Silva é dono de um bar na rua. Há 45 dias, vivencia uma nova profissão e a prática de empreender com o estabelecimento. “A ideia surgiu 20 dias antes de abrir o bar. Vimos o potencial da 14 e corremos atrás para abrir o bar. O público nos acolheu, demos vida a 14. Não só a gente, mas os outros bares também. Eu não esperava este sentimento. Precisamos de apoio da prefeitura e do governo. Queremos união entre empresários e poder público. Nós estamos aqui em prol da 14, era um sonho”.
O publicitário Bruno Soares foi um dos primeiros, lá em 2023, a apostar na rua 14 de Julho. Com um bar voltado à aura de boteco, o empresário tirou do papel uma vontade antiga.
“Sempre tive a ideia de abrir bar e restaurante. Queria uma coisa nova, que a cidade não tinha explorado. Procurando uma rua, achamos a 14. Justamente por Campo Grande ter um bar ligado à cultura do boteco, que a galera abraçou. Nos vamos ser a 14 de Julho, queremos chegar ao mesmo nível das ruas famosas e que têm vida noturna forte. Como estamos no Centro, aqui é mais democrático”, exclama.
Aos fins de semana, a prefeitura de Campo Grande informou que disponibilizará equipes da Guarda Civil Metropolitana (GCM) para atuar na segurança da população e da Agência de Trânsito (Agetran) para rearranjar o fluxo de veículos na região. O projeto desta sexta, sábado e domingo é inicial e experimental. Não há a oficialização da prefeitura sobre a continuidade da ação em outros fins de semana.