Mulher tem 15 minutos para se despedir da mãe que morreu com suspeita de COVID-19

A mulher preferiu não se identificar.

Leia o relato abaixo:

“Minha mãe estava com uma gripe e foi à UPA na quinta-feira. O médico disse que não era COVID-19 e a mandaram para casa. Na sexta-feira, ela passou muito mal e desmaiou, foi levada de ambulância para o hospital, onde foi examinada e constataram que ela estava com pneumonia. O médico pediu mais exames e ela foi internada na UTI.

Minha irmã foi dispensada para ir para casa e voltar no sábado no horário da visita. No sábado a minha irmã conversou com a minha mãe e com o médico, que ao ver o exame dos pulmões levantou a hipótese de COVID-19. Minha mãe ficou desesperada.

Ela foi levada para o isolamento, minha irmã não conseguiu se despedir direito. E teve a orientação de voltar apenas no dia seguinte para ver o resultado do exame. Às 20h30 minha mãe não resistiu e teve uma parada cardiorrespiratória.

Minha irmã foi chamada ao hospital, foi orientada a ir na delegacia para fazer o B.O neste caso de suspeita de COVID-19. Minha irmã me avisou de madrugada, pois ficou com medo de me avisar antes, pois estou grávida de 7 semanas.

Explicaram para minha irmã que o corpo seria encaminhado para o IML central, que fica nas Clínicas [Hospital das Clínicas de São Paulo], para mais exames e autópsia. E que deveríamos ver a liberação no dia seguinte. Domingo chegamos ao IML e descobrimos que nossa mãe só seria liberada talvez na terça.

O IML estava calmo, tinham corpos sendo liberados, mas tudo muito calmo e sem medidas de proteção ao COVID-19. Guardem essa informação, ela é relevante.

Passei no crematório para deixar tudo pronto e organizamos com a funerária. Segunda-feira, minha irmã ligou, ia ao IML para ter certeza se a nossa mãe seria liberada na terça-feira. Eles não achavam a ficha dela, nem sabiam do corpo. Foram 40 minutos de desespero no telefone.

Acharam o corpo da minha mãe e não sabiam se seria naquele dia ou na terça a liberação, mas o mais provável na terça. Resolvemos organizar as nossas vidas. Nos auto colocamos em quarentena, pois não tivemos nenhuma orientação do hospital neste sentido.

Às 14h30, ligam do IML dizendo que tínhamos que buscar o corpo da nossa mãe naquele momento. Bateu o desespero! Avisamos a funerária e o crematório… Tudo correndo!

Quando chegamos lá encontramos um cenário EXTREMAMENTE DIFERENTE DO DIA ANTERIOR. Cenário de caos! A equipe usando roupas diferentes, várias famílias na mesma situação que a nossa e recebendo a mesma orientação. Não foi realizada a autópsia e aguardará os exames laboratoriais que ficarão prontos em 90 dias. Ficamos chocadas com a informação e eles também não sabiam explicar…

A orientação foi a seguinte: o caixão será lacrado, vocês poderão ver a sua mãe através do visor, não poderá ter flores ou roupa, pois ela será cremada com o saco de proteção. Vimos apenas o rosto da nossa mãe que ficou fora do saco cinza, mas ela não teve direto a roupa ou flores.

Outra orientação é que não poderíamos realizar o velório. Teríamos que entregar o caixão e assinar os papéis no crematório. Sem nada! Sem nada! Isso doeu muito… Ainda dói.

Enfim… Seguimos para o crematório, onde eles nos permitiram 15 minutos para nos despedir, mas sem abrir o caixão. Eu, minha irmã, minha sobrinha e meu marido. Oramos e nos despedimos dela. Tudo tão rápido… E sem tempo para manifestar a nosso amor e dor.

Não sei se peguei ou não a doença, pois na quarta-feira da semana passada eu visitei minha mãe. Queria contar da minha gravidez… Tomamos todos os cuidados, não nós abraçamos e nem chegamos perto por ela ser uma senhora. Ela ficou tão feliz! Que o meu relato seja um alerta! Será que os números divulgados traduzem a realidade? Quantos de nós terá que morrer para entendermos que não é uma gripe?

Os pobres precisam pagar com suas vidas a economia do país ou os mais ricos poderiam ceder um parcela do seu dinheiro? Pense na taxação de riquezas para salvar a economia. Pense em que os maiores cargos do Executivo, Legislativo e Judiciário poderiam reduzir metade dos seus ganhos e custos por 90 dias.

Busquem e façam as contas. O pobre não precisaria se arriscar para manter a economia. Minha mãe sob suspeita de COVID-19. Teremos que aguardar os resultados dos exames. Conforme a declaração de óbito. Informações CNN Brasil /Luana Massuela/ Foto da capa ilustrativa (Blasting News) 

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