Coronavírus “copia e cola” parte do seu material genético no DNA humano

O coronavírus causador da Covid-19 é capaz de “recortar e colar” seu material genético no DNA humano, fazendo com que células do nosso organismo produzam proteínas do vírus mesmo na ausência do micróbio. A descoberta, anunciada nesta quinta-feira (6) em estudo do biólogo molecular Rudolf Jaenisch, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), oferece uma explicação para o caso de algumas pessoas que continuam testando positivo para a doença mesmo depois de recuperadas.

Em artigo na revista PNAS, da Academia Nacional de Ciências dos EUA, o cientista descreve com seus colaboradores um experimento no qual infectou culturas de células humanas com o vírus Sars-CoV-2, causador da Covid-19, e depois realizou sequenciamento genético do tecido vivo exposto ao patógeno. Os pesquisadores mostraram que as células humanas não apenas incorporavam parte do genoma do vírus, mas também passavam a reproduzir fragmentos de RNA com parte de seu material genético.

O fenômeno já tinha sido descrito para outros vírus.Como o teste de RT-PCR, o padrão-ouro para diagnosticar a presença do vírus, é baseado justamente na presença de RNA, a descoberta de Jaenisch é um sinal de que em algumas instâncias o diagnóstico sai positivo mesmo que o patógeno já tenha sido eliminado do organismo.

“A infecção prololongada pelo RNA do Sars-CoV-2 e a recorrência de de testes RT-PCR positivos foi amplamente reportada em pacientes após a recuperação de pacientes da Covid-19, mas alguns desses pacientes não parecem estar expelindo vírus infecciosos”, escrevem os cientistas no estudo da PNAS. “A integração e a transcrição de sequaencias virais podem portanto contribuir para a detecção de RNA por PCR em pacientes depois da infecção e recuperação clínica dos pacientes.”Jaenisch, um dos biólogos moleculares mais conhecidos em seu meio de pesquisa por seu trabalho com células-tronco e clonagem, foi um dos descobridores desse tipo de fenômeno.

Na década de 1970, ele mostrou que vírus são capazes de implantar material genético no DNA de mamíferos, um fenômeno que antes só tinha sido visto na interação entre micróbios e organismo menores.Em alguns casos na natureza, os vírus conseguem se esconder do sistema de defesa das criaturas atacadas, mantendo presença apenas no código genético do hospedeiro, para depois ressurgirem.

No estudo de Jaenisch, porém, não foi visto indício de que isso possa ocorrer com o Sars-CoV-2. Segundo o biólogo, como o material genético encontrado nas células humanas foi apenas de fragmentos do genoma do vírus, é improvável que o patógeno consiga se reconstruir dentro do corpo humano apenas com base nessas inserções genéticas.

No estudo, o cientista e seus colegas afirmam, porém, que este fenômeno pode estar por trás de reações inflamatórias exageradas do organismo humano ao vírus, no qual o organismo começa a atacar as próprias células. A incorporação de material genético do vírus ao genoma humano, mesmo que em poucas células, precisa ser mais bem estudado a partir de agora, dizem os pesquisadores.

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