Motivação do crime: mulher planejou morte do médico Gabriel para não pagar dívida de meio milhão

Descrita pela polícia como uma mulher “com boa argumentação e ótima em inventar histórias”, ela convence o rapaz a participar de um esquema de estelionato

Uma dívida de meio milhão foi motivo para que a estelionatária Bruna Nathalia de Paiva, de 29 anos, planejasse o assassinato do médico Gabriel Paschoal Rossi. Para isso, ela pagou R$ 150 mil e viajou ao lado dos três executores de Minas Gerais para Dourados – cidade a 226 quilômetros de Campo Grande – na última semana do mês de julho.

Bruna e os três comparsas – Gustavo Kenedi Teixeira, Keven Rangel Barbosa e Guilherme Augusto Santana, 27, 22 e 34 anos – acabaram presos na segunda-feira (7) na cidade de Pára de Minas, depois de um trabalho conjunto entre Polícia Civil e PRF (Polícia Rodoviária Federal).

Caminhos do crime

Os caminhos que levam a morte de Gabriel começam quando o médico – na época estudante de medicina – conhece Bruna Nathalia. Descrita pela polícia como uma mulher “com boa argumentação e ótima em inventar histórias”, ela convence o rapaz a participar de um esquema de estelionato.

Gabriel passa a emprestar o nome, documentos e fotos para fraude de cartões de crédito. Com o passar do tempo, ele também começou a sacar benefícios em nome de pessoas falecidas. A maior parte do dinheiro era envida para a quadrilha, mas o médico ficava com uma “taxa” e com cartões para uso pessoal.

Em um desses golpes – que a polícia ainda não conseguiu rastrear – o valor foi muito maior que o normal. O dinheiro por ter ajudado os golpistas, cerca de R$ 500 mil, não foi transferido e Gabriel decidiu cobrar Bruna.

Segundo o delegado Erasmo Cubas, foi encontrada uma “carta de desabafo”, onde a vítima cobra Bruna e afirma que se ele não receber o dinheiro, vai entregar todo o esquema do grupo. Para a investigação, foi esse motivo que levou a mulher – único contato do médico com os criminosos – a planejar sua morte.

Cartões apreendidos com o grupo criminoso (Foto: Ronie Cruz)
Cartões apreendidos com o grupo criminoso (Foto: Ronie Cruz)

Morte encomendada

Com a ideia de matar Gabriel, Bruna começa a procurar quem faria isso para ela. É apresentada então aos três suspeitos: Gustavo Kenedi Teixeira, Keven Rangel Barbosa e Guilherme Augusto Santana, todos de Minas Gerais.

Para dois deles, ela promete pagar R$ 50 mil para que matem o morador de Dourados.

No dia 26 de julho, os quatro embarcam em um ônibus rumo a Mato Grosso do Sul.

Bruna, no entanto, já tinha começado a organizar o crime bem antes: alugou duas casas em Dourados. Uma no bairro Monte Alegra e outro na Vila Hilda. A primeira era, literalmente, uma diária – entraria no dia 26 e sairia no dia 27 – a outra, foi “fechada” para 15 dias.

“Para gente ficou claro qual era a intenção. Eles alugaram a casa por 15 dias para matar Gabriel e deixar o corpo dele lá”.

Foi exatamente o que aconteceu. Depois de um trabalho detalhado, a polícia chegou aos dois endereços alugados por Bruna e através de imagens de câmera de segurança viram o horário que os quatro suspeitos chegaram a casa do Monte Alegre no dia 26 de julho.

Viram também que os três homens saíram na manhã seguinte, antes das 7 horas, em um carro de aplicativo. Voltaram horas depois para “pegar as malas” e foram embora. Depois disso, segundo o delegado, o grupo foi para Campo Grande e embarcou em um avião de volta a Minas Gerais, onde dias depois, foram presos.

A cena do crime

Equipes da polícia no local em que o médico foi encontrado (Foto: Martim Andrada)
Equipes da polícia no local em que o médico foi encontrado (Foto: Martim Andrada)

Os quatro presos ainda não foram ouvidos, mas pelos indícios encontrados no local do crime, a polícia já sabe dizer o que aconteceu com Gabriel.

O médico foi até a casa de boa vontade, depois de receber um pedido de Bruna: apresentar um amigo dela para alguém que pudesse vender drogas a ele em Ponta Porã.

Gabriel chegou a casa em que foi morto às 7 horas do dia 27 de julho. Ali, ele encontrou os “amigos” de Bruna, mas foi intimidado com um aparelho de choque (que foi encontrado dentro dentro da casa) e amarrado. Com pés e mãos imobilizados, o médico foi torturado.

Para a polícia, os três homens usaram um caso plástico para asfixiar Gabriel várias vezes. A intenção era apenas uma: conseguir dele a senha do celular e dados bancários. Depois de conseguirem todas as informações que precisavam, perfuraram o pescoço do médico e fugiram – era pouco mais de 8 horas quando saíram da casa.

Segundo o delegado, os exames apontam que Gabriel não morreu naquele momento. Ficou na cama, ferido, por pelo menos, 48 horas. Só após dias agonizando, deu o último suspiro.

“A ordem era: mata ele. Mas consiga a senha do celular também”, reforçou o delegado.

Nuvem de fumaça

Antes mesmo da polícia descobrir que Gabriel estava morto, já tinha constatado que o celular dele estavam em Minas Gerais, não em Mato Grosso do Sul.

Celulares apreendidos com os criminosos (Foto: Ronie Cruz)
Celulares apreendidos com os criminosos (Foto: Ronie Cruz)

Por um tempo, se trabalhou até com a hipótese dele ter sido sequestrado, mas ao ponto essa versão foi caindo por terra. Outras “possibilidades” começaram a aparecer. Mensagens foram divulgadas e até a história de que Gabriel estava envolvido em um estupro seguido de aborto. Surge a ideia de que ele havia sido morto por vingança.

Antes do seu corpo ser encontrado, a polícia descobre ainda mensagens dele pedindo dinheiro para amigos e avisando que estava sendo ameaçado por um “delegado vagabundo de MS” e por isso não adiantava recorrer a polícia.

Hoje se sabe que por trás de cada mensagem enviada estava Bruna. “Ela leu todas as conversar dele. Criou contextos diferentes para cada amigo. Jogou uma nuvem de fumaça sobre a investigação”, revelou o delegado.

Segundo Erasmo, Bruna enviava mensagens antigas de Gabriel em contextos diferentes, tudo para confirmar as histórias inventada por ela. Enquanto isso, tentava arrancar dinheiro dos amigos dele, chegou a receber um PIX de R$ 2,5 mil e limpou uma das contas do médico.

Bruna vai ser a última a ser ouvida, mas para a polícia, nada do que ela falar muda o que a investigação descobriu: ela era o elo de Gabriel com o esquema criminoso e foi ela quem planejou e executou todo o crime. “Ela só não foi na cena do crime. Ficou na casa do Monte Alegre”.

Ainda de acordo com o Erasmo, os dois nunca tiveram relacionamento amoroso, tudo foi apenas por dinheiro.

Para não dar os R$ 500 mil ao comparsa e não ver o esquema revelado, a mulher pagou os executores com dinheiro vivo e bancou toda a viagem. “Eles vieram aqui para executar o Gabriel”. Agora vão responder por homicídio duplamente qualificado: pela tortura por asfixia e por recurso que dificultou a defesa da vítima.

 

Fonte: PP MS / Foto: Sidney Bronka

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